- Então o Sr canaliza?
- Canalizo pois!
...
- Não tem prái um tampáruere ou isso para despejar a água?
- Tenho pois!
...
- Prontos! É da bomba d`água! Agora só 2ª feira...
- Pois...
- Então o Sr canaliza?
- Canalizo pois!
...
- Não tem prái um tampáruere ou isso para despejar a água?
- Tenho pois!
...
- Prontos! É da bomba d`água! Agora só 2ª feira...
- Pois...
O tempo e a saudade, e alguma preguiça também na verdade, encaminharam-me para o meu café de bairro favorito. O café, não o bairro. Esperançado por mais uma “crónica” passei a porta do paraíso da sandes de queijo e galão, com a expectativa da saudade.
Aproximei a fome e a ansiedade do balcão e pedi o habitual. Ao meu lado, um pequeno ser (homem) de tez muita pálida, assim quase albino, mordia com avidez um pastel de nata semi-escondido por um farfalhudo bigode louro e branco. O pastel, não o ser. O barrete capilar também rondava os tons, embora mais branco que amarelo. A pele ostentava ainda, sardas e outras manchas. A Rosa (que continua Sandra e cada vez mais latina) e os demais, dirigiam-se-lhe por qualquer palavra acabada em “ívias”, que eu não percebia.
Agucei a minha curiosidade crónica e regulei a audição para ao máximo. Ao quarto interpelar da Rosa finalmente percebi: Lixívias! Aquele ser de metro e meio e sem cor tem a simpática e carismática alcunha de Lixívias. Coisa que ele parece encaixar com todo o desportivismo da aceitação.
Ainda engolia o riso da descoberta, quando uma dona Fátima também de metro e meio (mas de largo) me esparramou contra o balcão, enquanto pedia um cafezinho. Dizia a Rosa:
- D. Fátima, e para comer?
- Oh filha… nada que gorda já eu estou!
(30 segundos de pausa)
- Tens Bom Bocado?
- Tenho.
- Olha que se lixe, dá cá um!
(15 segundos e duas dentadas depois)
- Hum… é bom! Oh Rosa, tens corassans?
- Tenho, com creme.
- Olha filha, guarda-me 4 que venho buscar na hora de almoço.
Entre albinismos e muitas calorias, todos devidamente aceites, o meu Café continua na mesma partilha. São estas referências que dão segurança nas escolhas. Até porque um cliente satisfeito (nem que seja pelo riso) é um cliente que volta!
Numa floresta de cimento urbano, mas verde, vivia um Tigre que não era zarolho e um Zarolho que não era tigre. Eram amigos desde a infância e suavizavam o passar dos anos em animadas conversas de índole Marxista/Leninista numa perspectiva de implante político de silicone opressivo e obsessivo.
Juntos se consideravam e olhavam o mundo (um deles assim de esguelha) na ilusão jovem de quem consegue tudo e não tem muito com que se preocupar. Até que um dia, já depois de ter saído de casa dos pais, o Tigre foi despedido da fábrica de automóveis onde trabalhava ia já para uma mão cheia de anos, mas vazia de indemnização.
Caído nas malhas do subsídio de desemprego começou a perder o lustre nas riscas e a pose felina, enquanto se arrastava de formação em formação pelos centros de emprego à espera de uma proposta milagrosa. Enquanto isso, o Zarolho ia subindo degraus na sua gorda carreira de sócio/gerente de uma fábrica de óculos escuros, que aliás usava sempre - dia e noite.
Errado dia, cruzam-se no corredor da casa que partilhavam, e momentos antes de o Zarolho falhar a porta da casa de banho e dar uma marrada na ombreira, o Tigre cai de fome aos seus pés. Surpreendido, o Zarolho fecha um dos olhos e repara pela primeira vez como ele estava pálido e magro. Umas malgas de água com açúcar depois, o Zarolho deixa cair o queixo (que o Tigre comeu logo tal era a fome) ao inteirar-se de que o seu amigo de vida, e de casa, estava no desemprego, sem dinheiro e com fome, quase há 1 ano.
Sentido vergonha na já rubicunda face, acalmou o Tigre dizendo-lhe que não se preocupasse porque tinha muito dinheiro no BPN e ia ajudá-lo. Aliás, estava com ideia de investir num negócio de um Freeport e ia nomeá-lo gestor do projecto.
Alguns dinheiros depois o Tigre perdeu a palidez e a fome e ganhou prosperidade financeira, ao mesmo tempo que abraçou a carreira política. Fundou o PND (Partido do Novo Dadaísmo), uma nova força de extrema esquerda e direita com assento no meio. Perdeu as riscas de vez e ganhou pêlo na venta, sendo por isso, agora, um Leão.
Entretanto naquela floresta, rebentam alguns escândalos que afundaram o Zarolho (qualquer coisa a ver com o banco parece), mas mantiveram o Tigre, isto é Leão, bem à superfície da conjuntura político-social. O Zarolho tentou fugir para o Brasil, mas esqueceu-se de fechar um olho e comprou um bilhete para Braga. Acabou por se envolver numa empresa de parques, mas deu rolho também.
Moral da história: Em terra de zarolhos, quem foge às riscas é o rei!
Não desesperem os pais das criancinhas lesadas, pois a solução já anda por aí. Neste país de atrasos e de atrasados (mentais) há sempre uma volta que esconde a derrota. Azul para os meninos, rosa (não se choquem) para as meninas…
Se os senhores da publicidade enganosa fossem honestos não se atreviam sequer a pensar em adulterar a imagem de um santo. Se eles queriam que o senhor bebesse o que eles vendem, que eu por acaso também gosto, quanto muito faziam isto:
Sem qualquer influência enganosa, eu até acrescentaria esta bandeirazinha desprovida de qualquer significado, assim do género pura coincidência, já que está com a cor certa...
Um Natal verde para todos!
P.S. – Os funcionários do Bilhete de Ida, desejam a todos os clientes, amigos, fornecedores e leitores um santo e Feliz Natal (verde) e um próspero (e verde) Ano Novo.
P.S.2 – Vá lá um comentariozinho para a caixa de natal, assim como assim já comemoramos 250 posts!