P.P. (Personagem Principal), seguia pela estrada do conto em direcção ao sol que se punha por escrita imposta. Guiava com a tranquilidade própria de quem segue um caminho orientado e acelerava o suficiente para lá chegar. Nem muito, nem pouco, apenas o suficiente.
O seu carro de confiança era o mesmo do ano anterior, o que lhe deixava espaço para qualquer manobra. Sabia de cor o número de voltas que precisava de dar ao volante se quisesse escrever um romance, ou a força com que travar em caso de choque literário, ou até o buzinar enfurecido em caso de engarrafamento de escritor.
Homem e máquina eram um só respirar que fluía pelas linhas da palavra escrita. O rumo não podia ser mais tranquilo, nem mais literário.
De repente, um estouro quase jornalístico fez perceber que rebentara um pneu. Guinou umas palavras para a esquerda, travou outras para a direita e a custo, e susto, conseguiu encostar na berma certa.
Saiu e verificou com estupefacção o estado degradado do pneu direito que agora era torto. Por desígnios de um crítico qualquer avistou uma área de serviço literário a 500m. Rastejou o carro para lá e pediu ajuda a um mecânico de letras…
- Eh lá! Esse pneu já não escreve nem mais uma linha!
- Pois é… já viu o meu furo?!
- Não se preocupe que veio ao sítio certo. Como prenda pela sua extraordinária condução literária, tem direito a uma edição grátis do seu próximo pneu!
- Nem pensar! Faço questão de ser eu a escrever o remendo!
- Mas não é um remendo, é uma edição nova. Além disso não pode recusar, faz parte do seu mérito!
- Não, não. Isto não passa de um exercício e se insistir deixo simplesmente de escrever.
- Mas assim a confiança do carro…
- ...