Não sei com que idade começam as recordações nostálgicas, mas eu já vou tendo as minhas. Fruto do que somos e do onde vamos, transportamos na nossa bagagem existencial uma colecção de memórias. Memórias sentidas e recolhidas no trajecto que nos fez nascer e que nos conduz ao fim da viagem.
O avançar do mundo não nos deixa manter alguns hábitos que fazem parte da nossa colecção e não da nossa realidade diária, mas que nos acompanham sempre no pensamento. Vivemos os dias cada vez mais depressa e todos os gestos diários caminham num poupar de esforço e tempo.
Os CD`s e os MD`s, os MP3`s e tudo outra vez, os nanos e os gigas, os i-pods e os i-phones e, sobretudo, os i-meu-Deus_qué_isto?!, vieram reduzir o processo de elaborar consequências. Cada vez se faz menos para atingir o objectivo final, é tudo “touch and go”! Perdeu-se o prazer domingueiro de ouvir um disco em vinil com toda a calma, demorando 10 minutos entre a ideia de o ouvir e a concretização da mesma (ideia). O ritual que começava pelo aplicar de uma pequena quantidade de spray anti-estático, a passagem daquela almofadinha de veludo sempre em movimentos circulares para tirar o pó todo, a limpeza da agulha do gira-discos, o colocar do disco no prato, o acertar da agulha naquela margenzinha de início e ouvir os estalidos antes da música começar, o sentar com prazer e depois… o desfrutar de alegrias como esta:
Este maravilhoso disco de 1978 faz parte do meu imaginário infantil! Aqui está o arquivo presente desta minha memória coleccionada que quero partilhada para que não se sinta perdida. Uma realidade infantil de grande qualidade musical, com a simplicidade eficaz de quem não i-nada! Era um disco em vinil e pronto! Era moroso e dava trabalho ouvi-lo e a preguiça dos nossos dias nem era um factor nesta equação de vontade. Ganham-se umas coisas, perdem-se outras… enfim, nostalgias!
Que saudades... de ouvir o guarda Ezequiel, o elefante D. Henrique, a serpente Serafina, o jacaré Casca Grossa, o hipopótamo Aristocrata, o burro Adalberto, o sapo Baltazar, a rã Henriqueta e o Popas, o papagaio! As horas de prazer e satisfação que me transmitiram permanecem intactas no meu baú de recordações. Ainda hoje canto estas músicas, como se as estivesse a ouvir nos meus Domingos de prazer!
Muito obrigado ao Carlos Mendes, ao Joaquim Pessoa e ao Júlio Isidro pela autoria, à Maria José Guerra pela narração e ao Pedro Osório pela direcção musical. Vocês fizeram de mim um herói destas histórias, nunca me cansei de passar os portões desse jardim!