Escritas do fundo do mar

18
Dez 08
Eu estava naquele limbo vegetativo de quem ainda não acordou, mas já devia, naquela faixa de transição de preto escuro adormecido para branco ténue ligeiramente acordado, ainda sorria não sei de que sonhos e os olhos ainda não tinham descolado, quando começo a ouvir uma voz de princesa de rua a cantar ao tom da “Noite Feliz”:

-Broooche… Broooche… Broooche!




Não sei se era para mim ou não, mas continuei a sorrir no meu doce acordar. Não me estava a parecer mal e de fantasia em fantasia se constrói um novo dia. Por isso deixei-me ficar mais um bocadinho a ouvir na expectativa e passado algum tempo, de novo a mesma voz de desafinado desejo sempre com a natalícia melodia do “Noite Feliz”:

-Broooche… Broooche… Broooche!

Desta vez já tinha dado um grande passo pela porta final do limbo e tal como os olhos, também os ouvidos já tinham descolado, e pude ouvir no rádio:

- Venha ao Almada Fórum, Fórum Montijo e Fórum Barreiro e ganhe um magnífico Porsche!

Afinal era um Porsche! O que a senhora cantava a plenos pulmões de natal era: pooorsche, e era um anúncio de rádio. Levantei-me na desilusão do reconhecimento e pensei que ainda não era desta que eu podia cravar ao peito aquela “espécie de fivela de metal ou de pedraria, provida de alfinete, que as mulheres usam como jóia, para prender peças de vestuário”. Adiei a minha fantasia e segui com o dia.

Há anúncios que me baralham!

Bilhetado por Brunorix às 11:32
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11
Dez 08

O esticanço de Natal lá me permitiu mais uma dentada em sandes de fora, e de novo entrei no reino mágico do meu café de bairro partilhado.

Já sorria de ansiedade perante algum capítulo mais para esta saga, quando começo a esmorecer a minha esperança de acção a cada dentada que dentava e a cada gole que goleava (não marquei nenhum golo, mas bebi um galão inteiro!). Será que não ia ter nada para contar?!

Os Rosos ainda se esforçaram a falar sobre a PlayStation 3 nova que a Rosa mandou vir para o Natal (para ela, note-se!), que o primo do não sei quantos, que mora na rua por baixo da outra, saca não sei de onde, com uma legitimidade que sabe-se lá e que ainda vem com 3 jogos: o PES 9 (o preferido da Rosa), um que não se sabe o nome e ainda aquele que é só porrada (sic, mais uma vez!)! Mas, dizia eu, nem esta partilha de jogos me animava e estava a ficar desiludido com o meu café.

Mas a goles tantos, surgiu a salvação da manhã! Os meus olhos ávidos de animação, perscrutavam tudo na esperança de compensar o nada que chegava aos ouvidos, e ali estava ele! Numa parede, um magnífico diploma (devidamente emoldurado) diplomava que o Roso tinha frequentado uma formação qualquer.

Bem, pensei de mim para comigo, já se percebe que as proeminências da Lena de Leste tenham ido passear, pois afinal estamos perante um funcionário devidamente diplomado! Terá ele um curso de hotelaria?! Alvitrei em pensamentos. Olhei com atenção redobrada, e até me aproximei mais da parede (eles não repararam, porque o Roso estava a explicar à Rosa a sequência para marcar cantos no PES) e maravilhei-me com a diplomaria diplomada:

Fulano de tal (também conhecido por Roso) frequentou a acção de formação de 2h, em higiene e segurança alimentar!




Toma lá! Duas horas de formação orgulhosamente escarrapachadas na parede! Brincamos ou quê?! Ah, pois é! Mas o que julgam deste café? Orgulhoso e mais descansado por não ter sido defraudado, estendi uma nota de 10€ para pagar e recebi um:

- Oh vizinho! Não tenho trocos, paga amanhã!

E pronto! Saí contente, sem pagar e a pensar que no meu café pode faltar pão, bolos, leite, até trocos, mas já mais faltarão episódios para contar!

Bilhetado por Brunorix às 13:24
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09
Dez 08
De primeiro - A páginas tantas, em romance de Saramago (Ensaio Sobre a Cegueira), deparo-me com um deve de ser, um deviam de ser e um devem de ser. Arrepiado do meu pseudo-conhecimento, comecei a estranhar, não só que existisse um erro em texto de Saramago (tão exigente de sua escrita), como ainda por cima um erro que se repetisse!

Mau… tu queres ver?! Não… não pode ser… isto não se diz, nem escreve assim. Eu sei, toda a vida aprendi isso… deve ser gralha de revisão, ou qualquer coisa. Será mesmo?! Remoí as entranhas da convicção e fui procurar… e descobri! Devia de ser proibido escrever assim!

De segundo – A cruzamentos tantos, dou por mim a contorcer o pescoço (e se de carro é perigoso, de mota ainda pior) para olhar para aqueles outdoors. São verdadeiros atentados ao trânsito público, à moral já não digo, e um convite ao acidente. Por isso, a Irina Sheik, que dá 15 - 0 na Cláudia Vieira (Cláudia desculpa, eu até sou bem nacionalista, mas as coisas são como são) também devia de ser proibida, porque qualquer dia ainda nos estampamos! Não é Rei Leão?!



Bilhetado por Brunorix às 18:22

05
Dez 08

1 - Onde estão os empregados de mesa portugueses? Fechados numa cave? Emigraram para outro país? Não há estabelecimento de restauração que se preze que não tenha um empregado brasileiro, ou dois, ou todos!

Não tenho nada contra eles, até são bem simpáticos como é apanágio dos oriundos do Brasil, mas há duas sensações que picam ligeiramente o meu desconforto. Primeiro, o facto de sentir falta de empregados a falar português de Portugal e que me façam sentir em que país é que estou, em segundo, a exploração implícita, tanto dos brasileiros que estão a ganhar ordenados de 4º mundo, como dos portugueses que por não quererem ordenados de 4º não conseguem empregos com ordenados de 3º porque estão ocupados pelos brasileiros.




2 – Onde está o Natal dos sentimentos? Fechado numa cave? Emigrou para outro planeta? Cerimónia religiosa à parte, que a mim não me diz nada, cada vez mais sinto o Natal como um negócio.

Das muitas coisas que me confundem, um exemplo. Anúncio radiofónico da Staples (que até costumo achar piada pelos actores), uma criança pede à mãe um Kit Tech-Emotions. É verdade que é um bolo maravilhoso, recheado de computador, gps, máquina fotográfica, viagem, actividades radicais, três quartos e casa de banho, um automóvel e o diabo a 7 (ou 8, já não sei), enfim… um mundo de exageros devidamente empolgados nesta descrição. Mas o importante, é que esta criança “exige” uma prenda de 800€! Coisa que um empregado de mesa de 3º mundo não deve ganhar e que quase deve pagar a dois de 4º!

A festa comercial em que se transformou o Natal, deixa-me entristecido. Encolhe-se-me o pinheiro da magia, fundem-se-me as luzinhas da imaginação, partem-se-me as bolas (esta é mesmo forte!) da partilha, gastam-se-me as prendas do esbanjamento e enchem-se-me os doces da troca porque tem que ser…




3 – Onde está a resolução destes problemas? Fechada numa cave? Emigrou para outro blog? Não! Está aqui mesmo:

Este Natal ofereça empregados de mesa portugueses! Por cada dois empregados de mesa portugueses oferecidos, receba de volta 5 empregados de mesa brasileiros para oferecer a instituições de caridade! Promoção sujeita ao stock existente! Concurso aprovado pelo Governo Civil de Qualquer sítio, sujeito à taxa AEG de 250% ou à Euribor (parece que vai baixar!)…


Agora a sério… Feliz Natal! (comercial ou dos outros)



Bilhetado por Brunorix às 14:21

28
Nov 08
Os maus ventos no canal financeiro afastam-me decididamente do meu café preferido. No entanto, uma ajuda de Natal lá permitiu mais uma magnífica incursão neste mundo partilhado.

Com os episódios que perdi pelo meio, não dei pela mudança de actores. Constatei, por isso, que as voluptuosidades salientes da Lena de Leste desapareceram (e a Lena também), o que origina nesta sequela a que a Rosa se faça acompanhar agora por um Roso Latino (que não sei o nome, mas como a Rosa também é Sandra não faz mal ao relato).

Discutiam estas duas almas da sapiência conjugal, questões sobre o amor numa partilha, como de costume, bem audível. Algumas pérolas apanhadas neste mar de preciosidades, seriam tão boas como: é preciso é que haja amor! Amor ao carro, à casa… (dizia ele). O problema é quando elas ganham mais e depois se fazem à vida e cagam (sic) neles! (rematava ela).

A meio desta erudição, entram dois indivíduos, tipo gajos, com umas vestimentas muito fluorescentes, tipo colete do carro mas de corpo inteiro, e aproximam-se do balcão pedindo num esfregar de mãos aquecedor, típico do frio das 9h da manhã que eram:

- Vai uma cervejinha?
- Tás maluco, a esta hora?! Quero um café com cheirinho…

Dirigi o meu olhar de espectador para o meu galão de menino (as coisas que eu bebo pela manhã!) e pensei em arrotar para dar um ar de macho mais ambientado, mas não consegui e continuei a mastigar a minha sandes de queijo (de boca fechada, o que também destoava!), também de menino, porque entretanto, já um deles pedira uma sandes de torresmo, mas como não havia, comeu um pastelinho de bacalhau!

São estes episódios que se perdem, por não comer fora mais vezes. Efeitos da crise…


Bilhetado por Brunorix às 11:27
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27
Nov 08
Portugueses são dos europeus menos satisfeitos com a vida

As coisas que eles inventam… valha-me Nossa Senhora! Qual é a necessidade que têm de estar a desestabilizar as pessoas?! Estamos nós aqui tão bem no nosso cantinho. Não nos falta nada, não temos dívidas, não contamos os tostões antes sequer de pensar, não sentimos a inflação a aumentar, nem as taxas de juro, nem sentimos os salários na mesma anos a fio…

“Bem-estar subjectivo”, mas afinal o que é isto?! Ele há coisa mais objectiva que o bem-estar? Ou estamos bem ou não estamos! Que mania de manipularem a cabeça das pessoas. Um estudo… qual estudo?! Mas isto é que é estudar?! Se fossem mas é trabalhar, como às pessoas!

E o pior de tudo… é que escolhem sempre as estatísticas em que estamos em último. Porque é que não mostram as da sinistralidade nas estradas? Ou das taxas de alcoolemia? Ou das famílias endividadas? Ou da literacia e do analfabetismo? * Se há coisas em que somos bons, porque é que não as valorizamos? Francamente! Sempre a mandar abaixo, a mandar abaixo… por isso é que andamos infelizes!

Não nos valorizam!





* - Nunca percebi o que é isso do fabetismo anal… mas com estudos destes até tenho medo de perguntar! Deve ser mais uma das modernices da Europa para nos mandar abaixo!

Bilhetado por Brunorix às 11:46

26
Nov 08
De seu nome Natália de Andrade, esta graciosidade do canto nacional consegue de um só sopro vocal abanar os alicerces cançonetistas de uma nação inteira. Dona de vários êxitos consagradíssimos, destaco esta ode à passarada. Sobretudo à passarada em sofrimento! Ainda pensei no Amor Verde, mas eu também tenho um e não fui capaz de o defraudar. Eis o que acontece quando o rouxinol adoece…




Roubei a ideia ao meu amigo Eduardo, mas não posso deixar de divulgar esta pérola. Este tesouro tem que ser desenterrado do mais fundo dos anonimatos. Tem que se trazer à luz do conhecimento a sua existência e o seu esplendor lírico cançonetista.
Bilhetado por Brunorix às 15:22

13
Nov 08
Na minha quinta, que não é feira – embora hoje seja –, reina a paz e a harmonia entre os sobreviventes do holocausto urbano, que empurrou os habitantezinhos das barracas para a congregação de cimento no topo da quinta. Agora, já podemos brincar todos juntos: os ciganinhos, os pretinhos, os branquinhos de segunda, os branquinhos de primeira… todos! Como o prato nº31 do restaurante chinês, Família Feliz!




Como eu adoro correr por aqueles campos fora e vibrar com a natureza, com a comunhão de estar vivo entre os habitantes da minha quinta. Umas vezes partimos vidros de lojas e paragens de autocarro, outras vezes graffitamos as paredes, outras vezes assaltamos as garagens para roubar bicicletas, outras vezes morremos afogados no lago, também gostamos muito das pizzas que tiramos aos meninos de vermelho que passam naquelas motas muito engraçadas… só não andamos aos tiros uns com os outros, como nas outras quintas, mas também ainda estamos a aprender.

Na minha quinta, os animais cantam. E cantam bem! Andava eu muito contente a brincar às drogas e à prostituição, quando encontrei um baú de recordações ao lado do campo de futebol (imaginem só o tamanho da quinta!). Primeiro, pensei em parti-lo todo ao pontapé, como fazem os meus amigos, mas depois decidi espreitar para ver o que podia aproveitar para vender. Lá dentro, encontrei este lindo disco…




Deve ser do tempo em que os animais falavam, ou melhor cantavam, porque esta porcaria tem mau som e é só barulho. Tou pa ver como é que passo isto para o meu mp3 novo, que achei (tenho a certeza que foi achado porque vi um miúdo à procura dele) à porta de um colégio que fica mesmo ao lado da quinta. A minha mãe, diz que na capa é o meu tio Artur (antes de ser preso) encostado à barraca da minha avó, momentos antes de partir a fuça à pu** da minha tia (como ele dizia), que é a que vai ao fundo com o outro gajo. Vou deixar aqui para todos ouvirem, as melodias da minha quinta!



Bilhetado por Brunorix às 12:54
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05
Nov 08
- Tou co reumático todo empanado!
- Epá, escreve um “N” num papel e dá-lhe muitas voltas!
- E isso tira as dores como?
- Não sei, mas ouvi dizer que o melhor pós ossos é voltar “N”!




Bilhetado por Brunorix às 10:18

31
Out 08
(…) “- Não se arme em pudico, que estamos entre cavalheiros e toda a gente sabe que os homens são o elo perdido entre o pirata e o porco. Gosta dela ou não?” (…)


Carlos Ruiz Zafón, in O Jogo do Anjo



Bilhetado por Brunorix às 16:07

Perdoem-me os mais sensíveis e literatos seguidores, se também gosto de incautos momentos brejeiros. Mas que dá para rir, dá. Esta saga é sobejamente conhecida e merece ser seguida. Nada de preconceitos, nem pudores. Afinal é sexta-feira e rir é a melhor maneira!



Este é o primeiro episódio de 11 e daqui para a frente é sempre a descer de nível, mas a subir de interesse! O resto da série fica aqui no local original, onde se podem encontrar mais sagas. Sempre com bolinha no canto… mas afinal, não é essa a motivação?!
Bilhetado por Brunorix às 15:56

30
Out 08
Exercício de aquecimento - de uma lista dada de palavras estranhas, inventadas ou não, escolher uma e trabalhá-la nos seguintes aspectos:

1 - Definir
2 - Provar a palavra
3 - Comparar (usando os sentidos)


Rezou assim:

1 - MACHONARIA, é uma sociedade secreta de Macho Latinos que se revela, sobretudo, nos subúrbios da noite portuguesa. Teve o seu início no nascer do séc. XX, devido a um erro literário, pois a sua transcrição fonética foi feita por alguém que trocava o som “ÇO” por “CHO”. Presume-se, por isso, que estivesse a falar da Maçonaria. No entanto, a palavra ficou, a sociedade também e podem ser encontrados muitos dos seus membros por aí. Caracterizam-se pela famosa camisa aberta (com pelos do peito à mostra, ou não, conforme o grau de masculinidade com que foram divinamente abençoados), fio de ouro e unha grande no dedo mindinho, a não menos famosa unhaca! Alguns completam ainda com o belo do palito!




2 – A palavra MACHONARIA deve o seu sabor ao verdadeiro homem português. O legítimo, o original, o bem chunga! O seu travo apimentado de baixo nível, contrasta com o doce paladar de genuidade e ingenuidade, polvilhada com um pouco de piroseira. Depois de marinar nalguns anos de cultura suburbana, pode servir-se a gosto (mau sobretudo).

3 – Devido às suas características únicas, MACHONARIA é dificilmente comparável, sendo no entanto a tentativa mais aproximada algures entre o cheiro a rebuçado barato (o mais enjoativo possível) e o toque suave da napa que imita pele, passível de adquirir em qualquer feira do país. A sua palidez intelectual divide-se pela literacia do jornal desportivo (só títulos e fotos) e a primeira página da Nova Gente (a da mulher nua) aquando da espera no consultório ou barbeiro.



P.S. – Exercício de 5 minutos (original), mais 10 minutos na revisão (sobretudo ponto 2 e 3).

P.S.2 – Obrigado ao modelo pela ilustração fotográfica do espécimen (espécie men – é um tipo de homem Machon)


Bilhetado por Brunorix às 13:14

29
Out 08
(…) “Não sei onde foi a miúda buscar aquele temperamento. Acho que é de tanto ler. E olhe que as freiras bem nos avisaram. Já o meu pai, que Deus tenha, dizia: no dia em que for permitido às mulheres ler e escrever, o mundo será ingovernável.” (…)


Carlos Ruiz Zafón, in O Jogo do Anjo





P.S. – O livro é bom que se farta, até chateia! Emitirei bilhete mais tarde…
Bilhetado por Brunorix às 16:55

22
Out 08
05 da manhã uma tosse, sem brilho no olhar
06 da manhã mais tosse e agonia
Às duas por três quem sabe onde isto irá parar
Eu é que já tusso tanto e até dormia

05 da manhã ei, bem bom
Tosse e amanhã ei, bem bom
06 da manhã ei, bem bom
05 da manhã ei, bem bom
06 da manhã pra dois, bem bom
Tossir e o que virá depois?
Bisolvon, ei!


Tudo verdade... até o facto de estar acordado a esta hora e com esta música na cabeça! Terá sido numa noite destas que surgiu a inspiração ao António Pinho, ao Pedro Brito e ao Tozé Brito? É que este nível de criação não se atinge a qualquer hora!

E agora?! O que fazer com esta pérola do nacional cançonetismo? A quem vamos dar isto para cantar?... hum... deixa cá ver... hum... olha, pode ser a estas meninas:





P.S. – Já que não durmo, divirto-me. Ou então, estou a ficar xarope!
Bilhetado por Brunorix às 05:59

20
Out 08
Se calhar é um bocadinho de mais. Eu sei que eles são todos modernos, mas estes rolos na cabeça… não sei… na rapariga da Caras parecia ficar bem.
E o jantar?! Será que devia ter feito qualquer coisa? Mas estes ricaços… nunca sei o que é que eles comem! Além do mais, não quero que ela pense que sou saloia! Li na Maria esta coisa da emancipação… não sei se era bem isto… o Armandinho é que não achou piada nenhuma! Ter que ir buscar frangos… enfim, seja o que Deus quiser!

(trim, trim)

Ui, devem ser eles… força e coragem Alzira!

“Olá meus queridos! Bem vindos! Ana, Francisco… como estão?”

“Olá Alzira, como está? Gosto do seu penteado!”

Olha, parece estar a resultar… se calhar usa-se mesmo!
“Gosta?! Fui de propósito ao cabeleireiro! Parece que agora está na moda… estes penteados com os rolos postos!”

“Ah… não me diga?! Mas fica-lhe muito bem! O seu marido não está?”

Agora é que ela se rende a esta mulher moderna que eu sou!
“Vem já… foi lá abaixo buscar os frangos para o jantar!”

“Os frangos?! Que bom adoro frango!”

Eu sabia. Eu sabia!
“Sabe Ana, parece que agora é moderno as mulheres não fazerem o jantar. Como eles também não sabem fazer, manda-se vir tudo de fora! Não acha o máximo?”

“Ai, acho, acho. Super original. A mim nunca me tinha acontecido…”

“Olhe, a campainha… Francisco, não se importa de abrir? Deve ser o Armando com os frangos. Depois se não se importa ajuda-o a pôr a mesa, enquanto nós duas pomos a conversa em dia!”
Esta agora é que eles não aguentam! E este também faz cara de parvo como o meu, quando lhe disse para ir comprar os frangos…
“Depois de tantos anos de opressão chegou a nossa vez! Não acha Ana?”

“Desculpe… estava distraída.”

“Estava a perguntar se não acha que depois de anos e anos de opressão chegou a vez de sermos servidas?!”
Não me digas que esta não lê a Maria! O que é que ela fará no cabeleireiro?

“Ai, sim, sim. Sem dúvida. Lá em casa também é sempre o Francisco que compra os frangos!”

“Pois faz muito bem! Aqui a vizinha do 3ºEsq também anda a aprender estas novas tácticas! Mas não estamos aqui para falar disso… temos muito que combinar sobre o casamento dos nossos pombinhos. Que a propósito devem estar quase a chegar…
Sabe?! Tenho sonhado muito com este dia. O dia em que a minha Odete entra vestida de noiva numa igreja…”

“Igreja?! Mas o casamento não é no civil?!”

Olha agora… queres ver?! Isto não são já modernices a mais?!
“Disparate! Oh Ana. Não diga isso nem a brincar. Onde é que já se viu um casamento sem igreja?”

“Pois sabe… eu pensei que...”

Alzira Maria! Tu não te deixes ficar! Havia de ser bonito!
“Mas é que nem que a vaca tussa! E o que é que as outras pessoas iam dizer?!”

“Bem, não sei… já lhes perguntou a eles como é que queriam fazer?!”

Ai, ai, ai. Onde é que isto já se viu?!
“Não sei como é que educou o seu filho… mas a minha Odete, faz o que eu lhe disser!”
Ainda bem que vem aí o meu Armando… olha, olha, toda sorrisinhos para o meu marido…

“Olá Armando, com está?”

“Olá Ana. Espero que esteja a correr tudo bem… eu sei que a minha Alzira por vezes…”

Ai Armando Manuel, que logo a gente conversa!

“Não! Nada disso! Estamos a entender-nos na perfeição!”




* Exercício de ponto de vista. Curso Avançado de Escrita Criativa. Exercício A feito na aula nos 15 minutos disponíveis. Exercício B feito em casa como oposição ao primeiro. Mais ou menos no mesmo tempo.

Bilhetado por Brunorix às 15:31

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