Escritas do fundo do mar

03
Dez 08
1. Sebastião nasceu branco no Sal, viveu verde no Cabo e morreu preto na Mina*.

2. O dia casou-se com a noite e tiveram um filho: o crepúsculo. Depois divorciaram-se e decidiram manter uma custódia alternada. Nunca mais se juntaram os três.

3. Trinta anos a ensinar, três filhos, cinco netos e uma vida inteira de amor e partilha deixam-me morrer em paz. Disse ela, antes de fechar os olhos pela última vez.

4. Era uma vez uma história que já não era, porque acabou antes de começar e começou assim que acabou.

5. Vroomm, vroomm, baaaaaaaa... baaaaaaa... baaaaaaa... hiiiiiiiiiii, escarabummm!! Tinóni, tinóni, tinóni. Tan, tan, tan, tan, tan, tan, tan, tan, tan, tan, tan. (marcha fúnebre)




*Mina – Freguesia da Amadora

P.S. - Duas linhas em Word.

Bilhetado por Brunorix às 17:04

02
Dez 08
TEXTO D (perspectiva à escolha)

"4ª Pessoa” – O Saco


Ser saco é ser mais alto. É ser maior do que um balde, plastificar como quem reja, é ser plástico e dar como quem seja, rei do reino da transformação sem pudor!

Florbela Esplástica



No Planeta Plasticúrio, um saco está no topo da cadeia plástica de transformação. Tudo o que em nós entra de uma maneira, avança ou recua na sua própria linha temporal. Embora me sentisse bem no meu planeta, estava cansado de transformar plástico e decidi viajar. Apanhei boleia de uma sonda terrestre e mudei de ares!

Gosto das novas transformações que faço, que aqui se traduzem em recuar ou avançar idades de pessoas (os habitantes deste planeta) e/ou mudanças de sexo (o que no meu planeta seria mudar de saco para saca e vice-versa). Houve um grupo que me apanhou (numa zona chamada Felgueiras) e que descobriu o que podia fazer comigo. Usaram e abusaram de tal maneira, que decidi fugir. Por isso, estou agora mais para sul num parque de uma outra cidade.

Já estava habituado a viver neste parque, quando senti que tinha sido descoberto pelo grupo de Felgueiras. Numa noite plástica destas, deixava-me deslizar pelo parque, transportado pelo vento, quando vejo um membro bebé do grupo a gatinhar desalmadamente em direcção a mim.

Num banco, com olhos, mais atrás, estava sentado um humano de consideráveis dimensões que olhava atónito e ofegante para o bebé. Pareceu-me que esboçava um esgar de tentativa de movimentação, mas não passou disso mesmo, pois não se mexeu nem um milímetro.

Enquanto eu aventava fugidiamente, senti que um arbusto (também com olhos!) me agarrava por trás (cobarde!) o que permitiu que o membro bebé conseguisse entrar em mim. Experimentado que estava no meu uso, rapidamente fez o que devia para se transformar. No entanto, esqueceu-se que eu estava agarrado pelo arbusto e enquanto eu esticava, esticava na transformação, passou tempo demais e o membro saiu já velho.

Mas foi aqui que eu fiquei plasticamente atónito. Quando o velho saiu de mim, um bando de humanas histéricas e nuas, saltaram-lhe em cima e imobilizaram-no no chão prendendo os seus braços e pernas com algemas. Nisto, o arbusto levantou-se e o banco também, embora não parasse de gemer, numa confusão de humanos e sirenes e gritos histéricos e aproveito que ninguém vê e deixo-me ir com o vento!

Fui!




Bilhetado por Brunorix às 12:46

29
Nov 08
Na 3ª curva à esquerda, Ofélia sorria na cinzentude de Mário. O seu olhar vivo e brilhante ofuscava os olhos cegos de apatia de um Mário condutor. Estava bem disposta e notava-se que ria sozinha. Cantava alegremente sobre o silêncio sepulcral da condução de Mário.

Sempre se tinham conhecido assim, em pontas opostas. O que para si era branco de manhã, seria sempre preto na noite de Mário. Mas amavam-se. Aprenderam a viver separados pela diferença. Desde logo os gostos musicais: a amplitude do rock ao pimba de Ofélia, soava a estridente no gosto estritamente clássico de Mário. Nunca liam os mesmos livros e raramente viam os mesmos filmes.

Até os bancos do carro pareciam ter cores diferentes: o azul-bebé de felicidade de Ofélia, crescia ao lado do estofo preto adulto de Mário. Aquele carro de antíteses, seguia por uma estrada de dois lados: uma montanha cinzenta e fria, surgia na janela fechada de Mário, enquanto do outro lado a cabeça de fora de Ofélia, indicava o agradável cheiro a flores de esperança.

Toda a vida viveram naquele equilíbrio de forças. O yin e yang que pautava o seu amor, fortalecia a certeza que tinham que nunca seriam o que viam no outro. No entanto, era esse mesmo contraste que lhes dava tranquilidade e alicerçava a relação.

Em 20 anos zangaram-se uma única vez. Foi numa manhã fria de Inverno em que escolheram camisolas da mesma cor. Saíram à rua os dois de azul-escuro, e não voltaram a encontrar o fiel da balança, a não ser à noite quando despiram as roupas da concórdia e se entregaram como nunca antes!

Agora que faziam juntos a última viagem, sabiam que esta aparente alegria contrastante era inversa ao passado. Mário sempre fora o mais colorido nos monocromas emocionais de Ofélia. No entanto, os acontecimentos dos últimos meses tinham pintado a cinzento a sua palete de cores. Não conseguia disfarçar a dor que sentia, e ainda se tornava mais difícil entender toda aquela alegria de Ofélia. Sabia que devia juntar todas as forças em volta do desejo dela e tentar fazer daquela última viagem um sonho, mas simplesmente não conseguia… tudo era pesadelo!

O nó que apertava na sua garganta, não deixava respirar o seu pensamento e toldava-lhe o espírito da justiça. Estava a ser egoísta e tinha que fazer qualquer coisa! Parou o carro, saiu e olhando de soslaio para a montanha cinzenta do seu lado, deu a volta ao carro deixando-o de porta aberta no meio da estrada. Do outro lado Ofélia sorria de cabeça de fora, extasiada com a floral paisagem.

- Não me deixes! - Disse ajoelhando-se ao seu lado.
- Meu querido, não penses nisso. Leva-me a este destino sem pensar nos porquês. Vamos viver cada respiração desta viagem como se não houvesse mais ar!
- Não consigo suportar a ideia de ficar sem ti! Não é justo! Porque é que não posso ser eu a morrer?!
- Porque assim ficava eu a sofrer! Já viste bem o que estás a fazer por mim?! Vais ficar cá a comandar o barco sozinho e a sofrer na tua navegação. Queres maior prova de amor que essa?! Anda meu amor, leva-me que o tempo urge!

De volta ao inconformado destino do caminho, Mário chamou a si todas as cores de volta à palete da esperança e pintou de determinação a sua postura para o resto da viagem. Concretizar aquela viagem, seria a sua despedida de Ofélia numa prova de vida dada em vida!




Exercício de Escrita Criativa sobre contrastes. Condicionantes (por esta ordem): 1 – duas pessoas num carro; 2 – Paisagem/montanha; 3 – Passado/Destino. Tempo: 15 minutos pontos 1 e 2, mais 15 minutos ponto 3.
Bilhetado por Brunorix às 17:21

26
Nov 08
TEXTO C (Relatório Policial)

Operação Saco Azul

Às 22h da madrugada de ontem, foi levada a cabo uma operação conjunta entre as forças da Polícia Juju (PJ), Polícias Santos Polícias (PSP) e Guardiãs Nuas dos Recantos – Brigada do Transformismo (GNR-BT).

A Operação Saco Azul foi o culminar de vários meses de investigação da força de intervenção especial das militares da GNR – BT com vista à cassação das actividades de transformismo ilícito do grupo de marginais conhecidos por Gang dos Bebés-Velhos. Esta brigada composta só por agentes femininas (espero eu!), incidiu a sua investigação nos mais suspeitos parques do país, após os misteriosos aparecimentos de sacos azuis transformistas. Esta investigação que começou em Felgueiras, culminou, como já foi referido, na acção interventiva de ontem, que ocorreu desta feita no Parque do Calhau em Monsanto.

Desenrolar da Operação:

21h 30m: Os primeiros agentes a chegarem ao local, foram o Agente Saraiva da PJ e o Agente Simões da PSP. Devidamente dissimuladas as suas presenças no local da operação esperou-se a chegada do prevaricador suspeito que se sabia, por escutas em infantários, ocorrer por volta das 22h.

21h 55m: A operação sofreu um revés inicial e esteve quase a ser abortada, quando o Agente Saraiva da PJ, disfarçado de banco de jardim, sentiu na pele, isso é no lombo, o pesar ofegante dos 150Kg do corredor nocturno, de ora em diante designado por Testemunha nº1. Perante a imobilização do referido Agente, debaixo de tamanha carga, pareciam goradas as possibilidades de uma rápida intervenção. No entanto, e graças mais uma vez à valentia destes agentes no terreno, foi possível levar a cabo os intentos da operação como se explica no parágrafo seguinte.

22h: O Agente Simões da PSP, disfarçado de arbusto, manteve a sua posição no terreno e aquando da chegada do prevaricador suspeito, que se sabia chegar em formato bebé, tentou atrair a posição deste último para junto de si. Embora soubesse da imobilização do seu colega agente, conseguiu que o saco (por acaso azul) ficasse preso em si, isto é no arbusto, atraindo assim o suspeito ao seu interior.

22h 30m: Como já era sabido por estas forças da ordem, o transformismo ilegal viria a ocorrer por volta das 22h35m quando o prevaricador suspeito, antes bebé, saía de dentro de um balão azul, antes saco, agora como velho (o suspeito, não o saco).

22h 35m 33s: É nesta fase da operação que se dá a rápida intervenção das agentes da GNR-BT (Agente Liliana, Agente Rute, Agente Ofélia, Agente Rosa Choque, Agente Matos e Agente Inha), devidamente fardadas, isto é nuas, que imobilizaram o velho, antes bebé, após o seu transformismo ilegal.

Notas finais: É de louvar mais uma vez, o bom desempenho de todas as forças policiais envolvidas, que só assim possibilitaram que mais um membro do referido gang fosse capturado após conclusiva prevaricação. Foi possível, ainda, recolher o depoimento da Testemunha nº1, que finalmente saíra de cima do Agente Saraiva, que teve que ser encaminhado ao hospital com lesões profundas nas costas, mais precisamente entre as vértebras L4 e L5. A este Agente se recomenda a atribuição da medalha (curiosamente) azul da Grande Ordem do Disfarce (GOD).

Ao Agente Simões se recomenda a medalha de Mérito Florestal por aguentar “arbustamente” o seu disfarce e à brigada da GNR-BT um louvor colectivo por mais um magnífico desempenho. Este louvor será procedido de um jantar de comemoração* em casa do Comandante da referida brigada, para atribuição de brindes e algemas de ouro.**


Lisboa, 25 de Novembro de 2008.

Comandante Gomes,
3ª Brigada da GNR-BT
(orgulhosamente único homem!)


* Excepção feita à Agente Matos que fica de serviço à esquadra, por não ter feito a depilação devidamente, como consta do código de conduta das militares da GNR-BT, artigo 2º Aprumos e Fardamentos, alínea 4c: Ostentações e Outras Pilosidades.

** É preciso esclarecer o mistério que envolve o transporte de equipamento policial por parte destas agentes, pois se nem um cinto usam…? No entanto, é de louvar o facto de surgir tudo no decorrer das operações quando é preciso, algemas, cassetete e arma pessoal.



Bilhetado por Brunorix às 12:16

TEXTO B (1ª pessoa)

Tenho que lá chegar… tenho que lá chegar! Nunca mais acerto com isto. Tanta mudança de corpo e nenhum me serve. Mas porque é que eu não ouvi as instruções com atenção?!

Se bem me lembro, diziam que tinha que ser de noite, num parque da cidade e para ter atenção à cor do saco que tem que ser de plástico (está visto que não têm consciência ambiental!). Já sei que não pode ser amarelo porque fiquei dentro de um corpo de mulher, verde também não porque saí bebé, vamos ver se naquele azul acerto. Afinal, tenho 20 anos e estou a gatinhar vestido com um babygrow, num parque nojento, atrás de um saco de plástico azul. Se ao menos o vento parasse.

Estou quase, maldito saco! Ainda bem que a esta hora não se vê ninguém… raios! Aquele gordo sentado com ar de morto vivo está a olhar para mim com cara de parvo. Queres ver que ainda se lembra de me pegar ao colo? O que vale é que parece ter um andar mais lento que o meu gatinhar.

Boa! O saco ficou preso num arbusto. Já tenho os joelhos em sangue, é agora!

Deixa cá ver se é desta: já estou cá dentro, dou 3 voltas enrolado no saco, declamo um poema, ponho os dedos no nariz, faço força e espero… espero… já me sinto a crescer… e a ficar mais velho… está a funcionar… finalmente, estou a crescer! Tenho cabelo, e barba!

(demasiado crescimento depois)

Espera, espera lá… estou a crescer de mais, a envelhecer demais… não!!! Saco errado outra vez! Será que tem de ser um do Continente? Os do Pingo-Doce são pagos… serão melhores?!




Bilhetado por Brunorix às 11:36

Mais um exercício de escrita criativa, desta vez em 10 perspectivas diferentes. Como condicionantes obrigatórias, o facto de ter que ser num parque, ter que existir um saco e ter que acontecer algo marcante. O resto é meia bola e força! Duração,15 minutos (+/-) cada texto. Deste escriba saiu assim:




TEXTO A (3ª pessoa)

Decidi parar porque já não conseguia mais. Sentia os pés na cabeça e os joelhos batiam um no outro a cada passada. Já era muita corrida para a minha barriga. Era a minha primeira noite de jogging no parque e eu estava sentado ofegante, 10 minutos depois de ter começado.

Enquanto lamentava a minha má forma, olhei para o lado e vi um bebé a gatinhar. Que horror, pensei, um bebé sozinho num parque às dez da noite?! Alheio ao meu pânico de adulto, o bebé continuava a gatinhar em direcção a um saco de plástico. Parecia decidido na sua tarefa de lá chegar.

Ordenei ao meu corpo que se mexesse, mas ele não fez nada, estava entorpecido da corrida e não houve reacção. Nisto, o bebé atingiu o saco e enfiou-se lá dentro. À medida que eu finalmente me conseguia levantar e me aproximava do saco, reparei que este estava a esticar, a esticar. Já não parecia um saco, parecia um balão.

Quando eu estava já ao alcance de um sopro, o balão rebentou e saiu de lá um velho!





Bilhetado por Brunorix às 11:23

30
Out 08
Exercício de aquecimento - de uma lista dada de palavras estranhas, inventadas ou não, escolher uma e trabalhá-la nos seguintes aspectos:

1 - Definir
2 - Provar a palavra
3 - Comparar (usando os sentidos)


Rezou assim:

1 - MACHONARIA, é uma sociedade secreta de Macho Latinos que se revela, sobretudo, nos subúrbios da noite portuguesa. Teve o seu início no nascer do séc. XX, devido a um erro literário, pois a sua transcrição fonética foi feita por alguém que trocava o som “ÇO” por “CHO”. Presume-se, por isso, que estivesse a falar da Maçonaria. No entanto, a palavra ficou, a sociedade também e podem ser encontrados muitos dos seus membros por aí. Caracterizam-se pela famosa camisa aberta (com pelos do peito à mostra, ou não, conforme o grau de masculinidade com que foram divinamente abençoados), fio de ouro e unha grande no dedo mindinho, a não menos famosa unhaca! Alguns completam ainda com o belo do palito!




2 – A palavra MACHONARIA deve o seu sabor ao verdadeiro homem português. O legítimo, o original, o bem chunga! O seu travo apimentado de baixo nível, contrasta com o doce paladar de genuidade e ingenuidade, polvilhada com um pouco de piroseira. Depois de marinar nalguns anos de cultura suburbana, pode servir-se a gosto (mau sobretudo).

3 – Devido às suas características únicas, MACHONARIA é dificilmente comparável, sendo no entanto a tentativa mais aproximada algures entre o cheiro a rebuçado barato (o mais enjoativo possível) e o toque suave da napa que imita pele, passível de adquirir em qualquer feira do país. A sua palidez intelectual divide-se pela literacia do jornal desportivo (só títulos e fotos) e a primeira página da Nova Gente (a da mulher nua) aquando da espera no consultório ou barbeiro.



P.S. – Exercício de 5 minutos (original), mais 10 minutos na revisão (sobretudo ponto 2 e 3).

P.S.2 – Obrigado ao modelo pela ilustração fotográfica do espécimen (espécie men – é um tipo de homem Machon)


Bilhetado por Brunorix às 13:14

28
Out 08
1ª Parte

Descrição de Gervásio W. segundo estes pontos :
• Idade avançada
• Tique/hábito frequente
• Peça vestuário/ adereço que o caracteriza
• Objecto em casa


Já entradote na vida, Gervásio Wellington III, tinha o estranho hábito de só caminhar pelo lado esquerdo das ruas. Segundo consta, já o seu pai, Gervásio Wellington II, o fazia.

Filho de finas castas, Gervásio Wellington III, parecia não se incomodar com os comentários que no bairro faziam a seu respeito. Uns pelo facto de só caminhar pelo lado esquerdo, outros pelo seu ar costumeiro sempre com o mesmo fraque cinzento, de tão preto que já não era, outros ainda, pelos sons estranhos que se diziam vir da sua casa.

Mas, a verdade verdadinha, é que Gervásio Wellington III do pouco alto dos seus talvez 70 anos, não parecia ter mais de metro e meio, nunca perdia a sua pose e orgulho em cada passada, sempre pelo lado esquerdo, claro!

Quando me mudei para o andar por baixo do seu, passei a ser o rei da escola. Todos me queriam visitar, só para poderem saber mais qualquer coisa sobre Gervásio Wellington III e os estranhos sons que se ouviam todas as tardes.

Com o passar dos anos fui-me habituando aos costumes e poses do meu vizinho. E, foi no verão de 1965 que me aproximei da verdade ao ponto de ficar a saber a origem do mistério sonoro. Não passava de uma grafonola que tocava um disco gasto e já sem qualquer música, mas aos porquês já lá vamos. Primeiro o como.






2ª Parte

Descrição feita pela irmã W. segundo os mesmos pontos:

Estou cansada! Estou farta! Estou desgastada… uma vida inteira na sombra dos Wellington masculinos! Primeiro, segundo, terceiro…

Felizmente que o meu irmão não teve filhos e também não vai ser a minha filha a continuar esta palhaçada! Quando o Gervásio morrer, acabaram-se os estúpidos fraques e a ideia absurda de que um Wellington só caminha pelo lado esquerdo! Felizmente que eu nasci para caminhar livremente pelas ruas.

Só me custa que o Gervásio tenha enlouquecido daquela maneira… até parece mais velho do que é, sempre a tocar a maldita grafonola todas as tardes, com o mesmo disco que de tão gasto já nem se ouve há mais de 20 anos! Tudo porque no dia em que a mulher dele saiu de casa, era aquele disco que tocava.

No meio do meu ódio, não deixo de ter pena do meu irmão que acabou por ser uma vítima desta loucura de “linhagem Wellington”, como lhe chamava o meu pai, mas também não posso deixar de compreender a Adelaide… quem é que aguenta viver com um Wellington, ainda por cima III?

Eu sei que somos todo o resultado das somas e subtracções da vida, mas há contas muito desiguais e restos que não batem certo… só porque não nasci homem! Que culpa tenho eu?!

É estranho… não me lembro de alguma vez ouvir o meu pai a dizer o meu nome todo. Era só Gertrudes para aqui, Gertrudes para ali, nunca o Wellington se juntou! Parecia que eu não tinha direito ao ferro quente em forma de W, assim como uma vaca tresmalhada no meio daqueles touros todos.





3ª Parte

Descrição de outra pessoa que o conheça bem, segundo os mesmos pontos:

Comecei a investigar este estranho caso na noite de passagem de ano. Findava o 72.

Estudo as passadas deste homem há mais de 6 meses. Sei tudo sobre ele. Estudei a sua vida intensivamente. Exaustivamente. De uma maneira que já me farta e enjoa!

O que interessa por agora são os factos! Gervásio Wellington III, era um homem de 61 anos que descendia de uma família ilustre, mas de estranhos hábitos. Segundo a sua irmã, não ficava bem a um Wellington caminhar na rua sem ser pelo lado esquerdo. O fraque era vestuário de consumo único e obrigatório! As rotinas faziam destes homens os ilustres portadores do estandarte familiar: os mesmos horários, a mesma roupa, o café sempre no mesmo café sempre à mesma hora, o jornal comprado no mesmo sítio… um imenso círculo fechado e rotineiro.

Mas o facto mais importante de todos, é que Gervásio Wellington III, apareceu morto na noite de passagem ano a ainda não fazemos ideia quem o matou, nem como, nem porquê.

Não havendo mais ninguém na sua vida, e com todo aquele ódio exacerbado, penso logo na irmã, mas…





4ª Parte

Continuação da 1ª parte, descrevendo a casa de Gervásio W.:


Tudo aconteceu por um simples acaso, como muitas das notas que pautam a nossa vida.

Num abafado dia de Julho, entrei ofegante no prédio depois de uma quentíssima caminhada vindo da escola. Sentado no primeiro lance de escadas estava o senhor Gervásio com a pele da cor gasta e cinzenta do seu fraque e encharcado em suor.

A medo aproximei-me e mal consegui perceber as parcas palavras que me dirigiu, mas que pareciam suplicar que o ajudasse a entrar em casa. A muito custo, lá conseguimos chegar ao 2º andar. Uma vez entrados, pediu-me que o ajudasse a sentar numa poltrona de um cabedal muito gasto, nitidamente “mono-rabo”, que se encontrava numa sala pesadamente antiga, entre a janela e uma mesa onde estava uma grafonola.

Depois de se encaixar naquele assento, perfeitamente demarcado em redor do seu corpo, pediu-me que lhe trouxesse um copo de água.

A cozinha ficava no fundo de um enorme corredor, que tinha várias portas dos dois lados. Caminhei por aquela estreita passagem, sentindo um ranger castanho a cada passo que dava e fui observando as fotografias daqueles homens diferentes, mas que pareciam todos iguais… vestiam da mesma maneira e tinham todos a mesma pose de superioridade altiva, numa delas reconheci o senhor Gervásio.

Umas das portas estava aberta e não resisti a espreitar para uma sala enorme cujas paredes se encontravam cheias de livros. Uma secretária e uma cadeira no centro, compunham o ramalhete mobiliário daquela divisão. Senti um peso cultural imenso naquele ambiente e invejei a possibilidade de poder ler todos aqueles milhares de livros.

Apressei-me a ir buscar a água e voltei para junto do meu vizinho, que já devia estar seco de tanto esperar. Com o seu adormecer agradecido, decidi explorar melhor aquela casa tão misteriosa e fascinante.

Ao lado da sala havia uma porta que estava fechada à chave. Na porta seguinte ficava o quarto do Sr. Gervásio onde sobressaía um magnifico toucador cheio de objectos que nitidamente não lhe pertenciam e que se notava não serem mexidos há muito tempo, tal era o pó que os cobria. Transpirava dor naquele quarto, envergonhado saí…

Não tive coragem de abrir mais nenhuma porta, mas senti que a principal já estava aberta, pois a partir desse dia passei a frequentar amiúde a casa do meu vizinho Gervásio Wellington III.

A cada visita fiquei a perceber o que leva um homem a viver eternamente um amor acabado e a colocar com uma esperança mórbida o mesmo velho e desgastado disco, na mesma velha e desgastada grafonola. Os estranhos sons que se ouviam pelo bairro, não eram mais que o choro do coração daquele homem!




Exercício de utilização de diferentes narradores. 7 minutos cada parte (revisto).
Bilhetado por Brunorix às 11:33

24
Out 08
O cheiro a destino pairava no ar. O vermelho vivo de felicidade de Lupe, contrastava com o verde pálido de aceitação de Pepe. O fiel da balança tombava para o lado da inevitabilidade e o contraste das emoções ardia a olhos sentidos.

Tomei o meu lugar na longa fila de suor, esperando a minha vez para desejar felicidades aos noivos. A temperatura num México sempre escaldante, rebentava com todas as escalas de aceitação para um Europeu como eu, naquela tarde de actos consumados. Chegada a minha vez, felicitei os nubentes e entre abraços e beijos congratulei-me por ter reparado qual era o que usava vestido, pois a julgar pelos dois bigodes, que igualmente me picaram, podia ter ficado baralhado.




O aliviar de um casaco agradavelmente colocado nas costas da cadeira, permitiu que a minha camisa finalmente descolasse das costas. Emocionado pelos 40 graus mais suaves daquele dia, apresentei-me aos restantes convivas da minha mesa, explicando que estava ali para fazer uma reportagem sobre o concurso mundial de noivas de Santo António, na tentativa de justificar o que fazia alguém como eu no meio de alguém como eles. Acho que não perceberam mas aceitaram-me à mesma, permitindo que saboreasse todas aquelas iguarias maravilhosas que em nada se pareciam com os sabores que conhecia da Cantina Mariachi do Colombo. E das Amoreiras. E… do Gaiashopping. E doutros shoppings que tais.

Na terceira rodada de tequila, lembro-me vagamente de ter esborrachado alguns feijões com a testa aquando da queda da minha cabeça para cima da mesa. Duas tentativas mais tarde, para a levantar, sorri parvamente para os restantes dizendo que sardinhas e vinho tinto é que era difícil de aguentar e que aquilo não era nada! Não contente com a maravilhosa actuação até então, decidi bater ruidosamente no copo com o garfo para ver se os noivos se beijavam. Alguns tiros depois (do pai da noiva), percebi que não era boa ideia.

Altamente bebida ia a noite, quando achei que era chegada a minha hora. Procurei os noivos entre cadeiras que teimavam em atravessar-se à minha frente e chegado ao destino quase impossível, renovei votos de felicidade entre promessas de uma magnífica crónica sobre o casamento deles, alvitrando as grandes hipóteses que tinham de ganhar o almejado prémio. Santo António já tinha abençoado aquele casamento de certeza… pelo menos da parte que me lembro!


P.S. - O Objectivo é descrever um casamento no méxico, recorrendo a todos os sentidos menos a visão. 10 minutos.

Bilhetado por Brunorix às 11:47

22
Out 08
- Três canetas, duas das quais estragadas
- Uma usada edição de poemas de Fernando Pessoa
- Uma velha fotografia de um homem em uniforme

Resultado:

Experimentei uma, depois outra e só a terceira escrevia. Sempre gostei de escrever a preto. Por isso, com a minha sorte habitual só a azul o fazia. Eram bics laranja de ponta fina, que contrastavam com a mais comum bic cristal de escrita normal! Sorri a lembrar-me do anúncio…

Apesar de não ter tampa, a bic laranja de escrita fina – azul -, continuava a fazer as minhas delícias quando deslizava sobre um qualquer papel imaculado.

Larguei os gatafunhos experimentais e peguei numa edição usada de poemas de Fernando Pessoa. De tão lido que foi, era quase impossível mantê-lo fechado. Algumas páginas tinham o canto dobrado. Desrespeito pelo autor, pensei. Por muito que se goste de um poema.

“Raia-lhe a farda o sangue…” as palavras surgiram na minha cabeça, quando vi entre duas páginas uma foto de um imponente militar. Uma casaca de fazenda cheia de bordados dourados mostrava uns ombros geometricamente direitos, num orgulho altivo. O monóculo no olho direito indicava pose de chefia poética. As muitas manchas da velha fotografia, não deixavam transparecer na totalidade a idade do fotografado, mas os galões indicavam uma idade condigna com a patente.

Voltei a colocar a foto dentro do livro e continuei a caminhada naquele labirinto de vida, remexendo gavetas de passado e perscrutando paredes de história. No entanto, conforme mudava de sala, constatava atónito que estavam todas vazias. Como seria possível sentir toda aquela carga de memória apenas com 3 canetas, um livro de poemas e uma foto?!

O pé-direito alto das divisões, o papel de parede antigo e o cheiro a século XIX, intrigavam-me do pensamento a conclusão. Sentia cultura à minha volta e amor pelas palavras. Ali tinha vivido de certeza um escritor! Preferia o preto para escrever, lia Fernando Pessoa… Um impulso literário continuava a empurrar-me na direcção dessa conclusão. Encostei o ouvido a uma parede e ouvi grandes nomes a recitar as suas obras. Estou numa casa de cultura, pensei.



Embora não perceba bem porquê, sinto que invejo quem ali habitou. Uma sintonia entre os meus gostos e vontades parecia enquadrar-se naquele ambiente. Sento-me no chão e tento, da já imparável curiosidade, tentar descortinar mais sobre o quem e o como, na expectativa de absorver inspiração.

Continuo a deixar transpirar nas minhas mãos a sensibilidade daqueles objectos. O uso intensivo da escrita ou do desenho, a cultura implícita e adorada naquele livro, a forte ligação à família na pele de uma velha foto com uma dedicatória a um filho comovido de a receber, a conjugação de todos e a sua importância isolada, faziam daquela feliz reunião a certeza de alguém muito especial. Pesei actos consumados e cheirei constatações. Deixei que falassem comigo, da mesma maneira que falaram com o seu antigo dono.

Levantei-me. Deixei aquela casa para nunca lá mais voltar, satisfeito com a vida que descobrira e que sentia agora ser minha também!
Bilhetado por Brunorix às 13:21

20
Out 08
Se calhar é um bocadinho de mais. Eu sei que eles são todos modernos, mas estes rolos na cabeça… não sei… na rapariga da Caras parecia ficar bem.
E o jantar?! Será que devia ter feito qualquer coisa? Mas estes ricaços… nunca sei o que é que eles comem! Além do mais, não quero que ela pense que sou saloia! Li na Maria esta coisa da emancipação… não sei se era bem isto… o Armandinho é que não achou piada nenhuma! Ter que ir buscar frangos… enfim, seja o que Deus quiser!

(trim, trim)

Ui, devem ser eles… força e coragem Alzira!

“Olá meus queridos! Bem vindos! Ana, Francisco… como estão?”

“Olá Alzira, como está? Gosto do seu penteado!”

Olha, parece estar a resultar… se calhar usa-se mesmo!
“Gosta?! Fui de propósito ao cabeleireiro! Parece que agora está na moda… estes penteados com os rolos postos!”

“Ah… não me diga?! Mas fica-lhe muito bem! O seu marido não está?”

Agora é que ela se rende a esta mulher moderna que eu sou!
“Vem já… foi lá abaixo buscar os frangos para o jantar!”

“Os frangos?! Que bom adoro frango!”

Eu sabia. Eu sabia!
“Sabe Ana, parece que agora é moderno as mulheres não fazerem o jantar. Como eles também não sabem fazer, manda-se vir tudo de fora! Não acha o máximo?”

“Ai, acho, acho. Super original. A mim nunca me tinha acontecido…”

“Olhe, a campainha… Francisco, não se importa de abrir? Deve ser o Armando com os frangos. Depois se não se importa ajuda-o a pôr a mesa, enquanto nós duas pomos a conversa em dia!”
Esta agora é que eles não aguentam! E este também faz cara de parvo como o meu, quando lhe disse para ir comprar os frangos…
“Depois de tantos anos de opressão chegou a nossa vez! Não acha Ana?”

“Desculpe… estava distraída.”

“Estava a perguntar se não acha que depois de anos e anos de opressão chegou a vez de sermos servidas?!”
Não me digas que esta não lê a Maria! O que é que ela fará no cabeleireiro?

“Ai, sim, sim. Sem dúvida. Lá em casa também é sempre o Francisco que compra os frangos!”

“Pois faz muito bem! Aqui a vizinha do 3ºEsq também anda a aprender estas novas tácticas! Mas não estamos aqui para falar disso… temos muito que combinar sobre o casamento dos nossos pombinhos. Que a propósito devem estar quase a chegar…
Sabe?! Tenho sonhado muito com este dia. O dia em que a minha Odete entra vestida de noiva numa igreja…”

“Igreja?! Mas o casamento não é no civil?!”

Olha agora… queres ver?! Isto não são já modernices a mais?!
“Disparate! Oh Ana. Não diga isso nem a brincar. Onde é que já se viu um casamento sem igreja?”

“Pois sabe… eu pensei que...”

Alzira Maria! Tu não te deixes ficar! Havia de ser bonito!
“Mas é que nem que a vaca tussa! E o que é que as outras pessoas iam dizer?!”

“Bem, não sei… já lhes perguntou a eles como é que queriam fazer?!”

Ai, ai, ai. Onde é que isto já se viu?!
“Não sei como é que educou o seu filho… mas a minha Odete, faz o que eu lhe disser!”
Ainda bem que vem aí o meu Armando… olha, olha, toda sorrisinhos para o meu marido…

“Olá Armando, com está?”

“Olá Ana. Espero que esteja a correr tudo bem… eu sei que a minha Alzira por vezes…”

Ai Armando Manuel, que logo a gente conversa!

“Não! Nada disso! Estamos a entender-nos na perfeição!”




* Exercício de ponto de vista. Curso Avançado de Escrita Criativa. Exercício A feito na aula nos 15 minutos disponíveis. Exercício B feito em casa como oposição ao primeiro. Mais ou menos no mesmo tempo.

Bilhetado por Brunorix às 15:31

Meu Deus! O que uma mãe não faz por um filho! Ainda agora só vamos no elevador e já me sinto em brasa! Mas porque é que a sociedade nos obriga a estes fretes?!

“Está tudo bem, Ana?! Estás com um ar tão pensativo…”

“Sim querido, tudo bem. Estou só nervosa com o jantar.”

“Então, vá lá. Sabes que fazemos isto pelo Pedro. Nada de cenas, sim?!”

“Claro! Por quem me julgas?! Vá, vá toca lá à porta e vamos despachar isto de uma vez!”

(trim, trim)

“Olá meus queridos! Bem vindos! Ana, Francisco… como estão?”

Meu Deus, o que é aquilo que ela tem na cabeça… rolos?!
“Olá Alzira, como está? Gosto do seu penteado!”

“Gosta?! Fui de propósito ao cabeleireiro! Parece que agora está na moda… estes penteados com os rolos postos!”

“Ah… não me diga?! Mas fica-lhe muito bem!”
Vá lá não ter aparecido de chinelos e roupão!
“O seu marido não está?”

“Vem já… foi lá abaixo buscar os frangos para o jantar!”

“Os frangos?! Que bom adoro frango!”
Eu nem acredito que esta pindérica não preparou o jantar…

“Sabe Ana, parece que agora é moderno as mulheres não fazerem o jantar. Como eles também não sabem fazer, manda-se vir tudo de fora! Não acha o máximo?”

“Ai, acho, acho. Super original. A mim nunca me tinha acontecido…”

“Olhe, a campainha… Francisco, não se importa de abrir? Deve ser o Armando com os frangos. Depois se não se importa ajuda-o a pôr a mesa, enquanto nós duas pomos a conversa em dia!”

Meu Deus… isto vai de mal a pior. Agora ainda tenho que dar conversa à lambisgóia! Ai meu filho… onde te vieste meter?!

“… não acha Ana?”

“Desculpe… estava distraída.”

“Estava a perguntar se não acha que depois de anos e anos de opressão chegou a vez de sermos servidas?!”

“Ai, sim, sim. Sem dúvida. Lá em casa também é sempre o Francisco que compra os frangos!”
Bolas, não posso dizer estas coisas. Prometi e mim mesma que me portava bem.

“Pois faz muito bem! Aqui a vizinha do 3ºEsq também anda a aprender estas novas tácticas! Mas não estamos aqui para falar disso… temos muito que combinar sobre o casamento dos nossos pombinhos. Que a propósito devem estar quase a chegar…
Sabe?! Tenho sonhado muito com este dia. O dia em que a minha Odete entra vestida de noiva numa igreja…”

“Igreja?! Mas o casamento não é no civil?!”

“Disparate! Oh Ana. Não diga isso nem a brincar. Onde é que já se viu um casamento sem igreja?”

Bem, deixa-me cá pensar… viu-se meu, o da minha irmã… o da maioria das minhas amigas…
“Pois sabe… eu pensei que...”

“Mas é que nem que a vaca tussa! E o que é que as outras pessoas iam dizer?!”

“Bem, não sei… já lhes perguntou a eles como é que queriam fazer?!”

“Não sei como é que educou o seu filho… mas a minha Odete, faz o que eu lhe disser!”

Tirem-me deste filme, por favor! Ah! Aí vem o totó. Salva pelo homem dos frangos!
“Olá Armando, com está?”

“Olá Ana. Espero que esteja a correr tudo bem… eu sei que a minha Alzira por vezes…”

“Não! Nada disso! Estamos a entender-nos na perfeição!”



Bilhetado por Brunorix às 13:26

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