Acontecimento: Estar preso (num estabelecimento prisional).
O PROPRIAMENTE DITO:
O ar ia acabar. Ainda faltavam vinte anos de pena e o ar não ia chegar. Queria respirar e não sabia como, pois sentia o aperto do tempo nos meus pulmões. O ar daquela cela tinha que durar mais vinte anos e, por isso, tentava respirar pouco de cada vez. Os 10 minutos de ar livre por dia, não me chegavam para encher os tanques da alma. Estava seco.
No entanto, estava molhado na clausura como se de um aquário se tratasse. Duas vezes por dia deitavam comida na minha água. Eu mal conseguia alcança-la, pois sentia as pernas presas nas redes da lei. Essa mesma lei injusta que me mantinha ali fechado e com pouco ar. Agora sei porque os peixes de aquário abrem e fecham tanto a boca – não conseguem respirar.
Vinte longos e asmáticos anos e eu com as pernas presas. De vez em quando o meu advogado olhava-me do lado de lá das grades e só faltava bater no vidro para ver se eu me mexia.
Lá vem a comida… não consigo… tenho as pernas presas e pouco ar. Enrodilhado nesta cama, neste cárcere sinto a chama molhada. A minha boca abre e fecha e eu sei que há mundo lá fora.
Vinte anos e nem fui eu que a matei!