Escritas do fundo do mar

01
Abr 08
Tenho saudades do que vivi e já não vivo mais, do que podia ter vivido de outra maneira e do que nunca vivi. Tenho saudades do tempo em que o tempo estava parado e não corria desta maneira e em que eu não tinha que correr contra ele.

Tenho saudades de descansar sem me cansar e de me cansar descansado. Tenho saudades da areia que me fugiu pelos dedos e dos castelos que as ondas desmancharam. Tenho saudades dos luares inconsequentes e da consequência dos luares.




Tenho saudades das férias de 3 meses e dos meses sempre de férias. Tenho saudades de não ter horários e das horas que não tinha. Tenho saudades de ir jogar à bola na rua e de me sujar ao ar livre. Tenho saudades do campo e do ar respirável. Tenho saudades de carregar a mochila da escola e de ir para a praia durante a semana.

Tenho saudades dos amigos que já nem sei e de não saber as amizades que tinha. Tenho saudades de sair para o recreio e de recrear as saídas. Tenho saudades das encruzilhadas da decisão e das decisões encruzilhadas. Tenho saudades de ti, de mim e de nós. Tenho saudades dos filmes que não me lembro e das lembranças filmadas. Tenho saudades da música ensinada e da aprendizagem musical.

Mas tenho, acima de tudo, saudades de não ter saudade de nada!
Bilhetado por Brunorix às 14:01

A saudade é uma condição da alma que se resigna no tempo da consciência, e se amarra à consciência do tempo.

Por te saber pouco saudosista é que não tenho problema em dizer que o que escreveste está bem escrito.

Eu também "Tenho saudades" e não tenho vergonha disso.

Mano Zé
a 1 de Abril de 2008 às 20:03

Os polvos da baia também têm saudades tuas... estão gigantes!
CP a 2 de Abril de 2008 às 11:23

E eu deles! Mas está para breve o regresso!
Brunorix a 2 de Abril de 2008 às 11:33

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