Descobriram-se amigos de conversar e pintaram de várias cores os cinzentos de cada um. Juntando as memórias boas individuais, conseguiram fazer um conjunto de doces recordações que comeram em fatias iguais. Sentiam-se cheios da sobremesa e adormeceram no cansaço da partilha. O quarto estava quente pela primeira vez.
Decidiram formar uma empresa de capital vontade e começaram a vender determinação juntos. Escreveram crónicas de descoberta, contos de futuro e romances de certeza. Todos os dias voltavam ao quarto com mais matéria-prima para escrever. Escreveram e venderam, escreveram e venderam… escreveram e venderam.
As paredes do quarto começaram a afastar, o soalho já só rangia de contentamento, o cinzento iluminou-se, o calor entrou e as meias coseram-se. Agora que tinham mais divisões, começaram a escrever separados. O capital aumentou e as vendas também. Formaram uma editora…
Acordou enregelado esticando o fino cobertor que já não se via de tanto esticar. Sentou-se na cama de molas ainda tristes e olhou a meia ainda rota. Voltara sem nunca ter saído.
(continua)