Escritas do fundo do mar

11
Mar 10

 Recebido:

 

1 - Uma alface assassina um homem.

2 - Causar efeito de perdão no leitor.

3 - 15 Minutos (revisto).

 

 

Devolvido:

 

Querida Alfácia,

 

É verdade. Tudo o que tens ouvido sobre mim é verdade. Fui eu que o matei e se fosse hoje voltava a matar.

 

Eu não podia ficar plantado à espera que as autoridades fizessem o que lhes compete. Sabes bem como é a justiça na nossa Quinta. A maneira bárbara com que ele te pisou as folhas, as dentadas nojentas que deu no Alfacinho e na Alfacinha. Eu não podia meu amor, percebes? Os nossos filhos morreram no prato enquanto nós sangrávamos na saladeira! Ainda hoje mexo mal o caule esquerdo. E tu minha Alfácia? Cheia de manchas castanhas e a cheirar mal enquanto as lágrimas de mãe te corriam pelas folhas do desgosto… foi demais para mim.

 

Ainda hoje penso que foi a mão de Deus que atirou aqueles dois garfos na direcção da testa dele, porque eu sinceramente não sei onde fui buscar forças para o fazer. Tenho recebido cartas de todos os legumes da Quinta a felicitar-me pela coragem e por nos ter libertado daquele malvado. Parece que a paz reina agora por aí.

 

Espero que compreendas minha Alfácia. Eu tinha que cumprir o meu papel de pai e de marido. É a última vez que te escrevo, pois estou na bancada da morte. Fui condenado à cozedura por panela de pressão. O meu corpo vai-se desfazer na água a ferver e passarei a ser um qualquer puré verde. No entanto, não me arrependo! Faria tudo de novo.

 

O Padre saiu daqui agora mesmo e até a última refeição dispensei. O meu último e único desejo é saber que me compreendes e que me perdoas.

 

Com todo o amor,

Alfácio

 

 

Bilhetado por Brunorix às 13:42

Parece-me que o desafio foi brilhantemente respondido.
redonda a 16 de Abril de 2010 às 01:00

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