Escritas do fundo do mar

06
Abr 09
Introdução – Exercício de utilização do mesmo personagem em diversas circunstâncias e condicionantes. Segundo exemplo, 15 minutos. Tem que começar num lugar alto a observar algo e tem cinco interrupções a inserir obrigatoriamente: “tenho saudades do tempo”, “será que perdi o meus dias ou os meus dias perderam-me”, “é mais azul quando dói”, “mas não, isso não”, “as coisas que voltam não voltam”


Acção:

Warajad Sterck Rashid estava na varanda da sua penthouse a fotografar as pessoas que se vestiam na pressa matinal. Incrível a quantidade de pessoas que o fazem de cortinados abertos e que confiam na descrição das alturas, esquecendo-se que há sempre alguém mais alto. Curiosas, também, as diferenças de janela para janela; nalgumas vêem-se corpos que se lamentam terem que ser tapados e noutras felizmente que o fazem.

Tenho saudades do tempo em que percorria, todo nu, os campos atrás da casa. A leveza de correr sem roupa, deixava fresca a erva do meu crescimento.



Deve ser por isso que gosto de corpos nus. Sobretudo os dos outros e especialmente os que ainda não conheço. Não há mistério melhor que desvendar o que se esconde por trás de cada peça de roupa. As belezas gritantes, os choques constantes, os desgostos de fartura e qualquer inesquecível escultura, aumentam-me a procura.

Será que perdi os meus dias ou os meus dias perderam-me nesta busca pelo corpo? Talvez tenha deixado lá na aldeia, o espaço que devia dar a cada um. Mas não o faço por mal, observo porque aprecio. A liberdade conturbada da minha infância é mais azul quando dói a razão. Nos dias em que me passa a dor, sinto-a verde e inocente e aí sim tudo parece no lugar certo.

Para ir à cidade obrigavam-me a vestir, mas não, isso não: antes ficar nu por aqui que vestido por lá. Costumava pensar. Como tudo mudou, agora adoro estar vestido a sentir a segurança da envolvência. As coisas que voltam não voltam a despir-se mais. Já não consigo correr nu, talvez a gravidade tenha a sua influência na mudança de gosto. Que desgosto…

Bilhetado por Brunorix às 19:06

Introdução – Exercícios de utilização do mesmo personagem em diversas circunstâncias e condicionantes. Primeiro exemplo, 10 minutos. Tem que falar dos pais, de sítios onde viveu, do acontecimento mais importante da sua vida, da actividade principal e onde vive agora.


Acção:

Warajad Sterck Rashid era filho de dois pais. Homens. Nunca soube quem era a sua mãe biológica, mas também nunca sentiu muito essa falta pois um dos seus pais cumpria bem o papel de mãe. Viveu grande parte da sua vida numa aldeia do Norte da Índia, porque a sua peculiar família não era bem aceite na cidade. Entre outras coisas, aprendeu a ler e a escrever em casa. Os seus pais eram, respectivamente, um fotógrafo (o pai-pai) e um escritor (o pai-mãe).



A aldeia onde vivia só tinha população velha e provavelmente a maior parte deles nem conseguiam ver ou ouvir bem a sua família. O acontecimento mais marcante da sua vida, deu-se precisamente com a mudança de um jovem casal e da sua filha, lá para a aldeia. O impregnado ar feminino que passou a respirar mudou-lhe mais que a sensibilidade nasal.

O mundo que conhecia foi-se transformando aos poucos, ao ponto de aos 20 anos abandonar a aldeia para ir viver para a cidade. Queria ser realizador. O facto de sofrer de crise de identidade ajudava muito na criação de personagens para os seus filmes. Adorava viver cada uma delas, e confundia na sua cabeça a nitidez da ténue linha entre o que era ele e o que era cada personagem. Por isso se especializou em filmes sobre sonhos que nunca contam a verdade.

Actualmente vive numa penthouse de um enorme prédio na cidade. Sempre que não está em filmagens sai para a rua com o seu inseparável fotómetro e a sua velha Polaroid, em busca do filme seguinte.

Bilhetado por Brunorix às 19:02

Os ingredientes estão lá todos, mas talvez o sabor final não seja o que se espera à partida. Temos bons e conhecidos actores, espionagem e romance, emoção e um enredo bem estruturado. Portanto, tudo aquilo que é preciso para fazer apenas mais um filme igual a tantos outros.

Só que este filme não se fica só por isso e consegue juntar a esses ingredientes garantidos alguns temperos que fazem toda a diferença no degustar. Como a sequência original com que a história é contada e o final talvez não tão previsível como pode parecer.

Um bom exemplo de que um Cartão Mágico serve para estes entretenimentos que de outra maneira poderiam saber a dinheiro mal gasto. Divertido e ajuda a distrair.


Bilhetado por Brunorix às 13:11
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