Escritas do fundo do mar

04
Mar 09
A amizade pode terminar em amor, mas o amor em amizade - nunca.

Charles Caleb Colton


Charles Caleb Colton
(1780-1832)
Bilhetado por Brunorix às 11:52
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03
Mar 09
Cinzentos são os ventos da discórdia. As palavras que se dizem, e escrevem, podem ter todas as cores que lhes quisermos dar, mas também podem não ter nenhuma. Nem tudo é preto e branco e não se pode descartar a mistura das duas: o cinzento.

Cinzentas são as injustiças nas análises comportamentais dos indivíduos. As atitudes que se tomam nem sempre são o reflexo do coração, mas sim o da cabeça. Quem és tu para me apertar o pescoço à espera que cuspa respostas claras?! Acções? São contradições. Mas é disso mesmo que somo feitos.

Hoje também podia escrever sobre muitas coisas, mas não. Não escrevo sobre nada e no entanto digo tudo. Que é quase nada. A pressão do ambiente circundante faz parte do mergulho da vida: é preciso aprender a respirar nele. A dor que nos impele num sentido não se explica, sente-se! Somos sabão em mão que aperta, quando se escapa não se sabe bem onde vai parar.



Hoje podia escrever sobre o cinzento. E escrevo. Faço desta cor a ode à loucura que é viver. Erguer das trevas sem força para o fazer tem este preço. Quem és tu para me criticar o que não faço?! Decisões? São opiniões. E é segundo elas que vivemos.

Cinzento é o texto que não se percebe, mas que se sente. Gritar é o silêncio de amar no escuro, sem futuro. Ouvir é o reflexo do sabor amargo da injustiça. As traições, não se sabem que o são até que elas aconteçam. A verdade será sempre lei, mesmo que não se perceba. Nem tudo é preto e branco.

Quem és tu para querer colorir o meu cinzento?!
Bilhetado por Brunorix às 17:43

02
Mar 09

Umberto Eco(ou) ontem no Convento de Cristo em Tomar para nós (e para outros 60) como o faz desde 2004, numa peça que dura 3h + 6 momentos de refeição, o que dá qualquer coisa como 5 horas, mas das pequenas, porque o entusiasmo é tal que não se dá pelo tempo a passar.




A originalidade desta representação (muito característica dos Fatias de Cá) transporta o publico com os actores pelas salas do convento, com 6 passagens pelo refeitório (excelentes para retemperar forças, comer e discutir animadamente sobre o que se viu e o que se irá ver) numa adaptação fantástica, diferente, envolvente e empolgante deste emblemático romance. É verdade que nada substitui a leitura e a 7ª arte que me perdoe (e o Sean Connery também), mas estar ali ao lado dos actores (na sua maioria amadores, mas com grande brio) a viver a história em todas as salas, andar com eles, comer com eles e sentir cada momento na pele (frio incluído), dá uma imensidão muito mais vibrante da história.

Vale toda a distância percorrida, a hora a que termina a um Domingo (+/- 23h), com o posterior regresso, e o preço (que é irrisório em relação a tudo o que oferece). Permite conhecer o Convento de uma maneira diferente e em sítios onde normalmente não se tem acesso, é um excelente meio de divulgação cultural e do património e merecia uma muito maior divulgação. Uma peça que está em cena há tanto tempo e que é mais conhecida pelo boca a boca do que por qualquer outro meio.



Temos que divulgar e ter orgulho nas coisas boas (aliás, muito boas) que se fazem por cá. Uma experiência totalmente diferente não só em termos de teatro como de gastronomia. É escandaloso, eu diria quase criminoso, perder a possibilidade de viver esta aventura.

Como bónus, e para tornar tudo ainda mais excitante, podem sempre deixar a carro aberto com a chave na ignição durante 6 horas em frente ao Convento, a ver se têm sorte. Nós tivemos!



Bilhetado por Brunorix às 19:01

Foi uma vez uma estrela, que já era mas ainda não tinha sido, do mar. Estava no fundo de um oceano de tempestades, mas mantinha sempre a mesma tranquilidade singela de um repouso sereno, mas expectante na procura.

Certo dia, que foi certo pelo destino, decidiu mover-se de uma rocha para outra para procurar um melhor abrigo, das intempéries de vida e do pouco alimento situacional da sua posição. Esta movimentação, que pela curta distância aparentava ser segura, foi interceptada por um Tubarão de Sesimbra que vagueava nas redondezas em busca de alimento.



Aparentemente assustada, a Estrela-do-mar tentou ficar muito quietinha para que o Tubarão não a visse e seguisse o seu caminho. Só que este tubarão tinha umas lentes (com desconto igual à idade) e topou logo aquela estrelinha assustadiça. Aproximou-se de dentes afiados e… não fez absolutamente nada! Embasbacou-se, emparvalhou-se e deixou-se ficar de boca aberta.

Seria um tubarão temático? Pensou ela, desiludida por não ter sido comida. Não satisfeita com a desfeita, afinal tinha-se movimentado no seu melhor vestido Carmim Fundo, decidiu enviar flores com chupas ao Tubarão para que ele não se esquecesse da sua atitude tão pouco condizente com um macho da sua estirpe aquática.

Águas passadas sobre a recepção das mesmas (flores com chupas), o Tubarão indaga por mais movimentações da Estrela-do-mar e numa tentativa de salvar a honra tubaronense envia uma mensagem por búzio electrónico a agradecer as mesmas (flores com chupas). A partir daí várias mensagens se trocaram (por búzio e telefone de concha) em direcção a outros mares nunca dantes mergulhados.

No entanto, o Tubarão nunca mais se decidia a comer a Estrela-do-mar (o que a deixava profundamente, de profundidade, furiosa) e esta não foi de modas (até porque sempre vestiu atitudes diferentes): voltou à carga com uns deliciosos biscoitos em formato de gengibre do mar, que deixaram o Tubarão profundamente extasiado, especialmente da barriga.

Algumas trocas depois e um doce telegrama via Express-Fish, decidiram encontrar-se para partilhar um belo bife (de atum) com ovas a cavalo e molho portugália aquática. Vários encontros se seguiram até que um dia a Estrela-do-mar convida o Tubarão para conhecer a sua rocha da alta e quando finalmente o Tubarão se preparava para a comer (à Estrela) ela esfrega o seu cavalo-marinho pela paredes da garagem da rocha, numa atitude de demonstração de poder profundamente feminino, isto é, contraditório.

Deliciado com aquela demonstração, o Tubarão entusiasmou-se e começou a viajar para Sul com frequência para estar com a Estrela-do-mar na sua rocha da praia. Às vezes era ela que viajava para Norte.

Decidiram parar com as viagens e juntaram-se na mesma rocha onde ainda hoje vivem. A Estrela-do-mar atubaronou-se e o Tubarão tornou-se estrelado. Não se percebeu bem como se fundiram, mas alguma coisa aconteceu e os dois estão vivos e felizes.




Adenda Infantil - Vá lá alguém perceber o moral desta história. Crianças: não digam aos vossos pais que eles se comem porque não há nada por escrito.

Adenda Adulta – É claro que ninguém come ninguém e podem contar esta inocente história aos vossos filhos. Afinal é só amor entre espécies diferentes.

Adenda EspecialParabéns!

Adenda Temporal – Esta história foi ontem, mas a validade é eterna.


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