Escritas do fundo do mar

15
Mar 09
Justificadas ausencias (sem acentos) se escrevem de um qualquer aeroporto, neste caso Bruxelas, apenas para marcar uma Bilhete com outro sotaque. Depois irei juntar fotos e mais peripecias, e outros aprumos e comentarios.


Bilhetado por Brunorix às 17:12
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12
Mar 09
A dúvida perguntou ao medo se afinal sempre iam. O medo disse que sim, mas desde que avisassem o destino para não haver enganos. O destino depois de avisado, encolheu os ombros e percebeu que não havia nada a fazer, mas pelo sim pelo não telefonou à consciência. Esta não pode atender porque estava numa reunião. Mandou sms a dizer que ligava mais tarde. Como não dava para esperar o destino fechou os olhos, esperou, e… não aconteceu nada!



Bilhetado por Brunorix às 19:11

Exercício: Pegar nas frases de um lado, juntar mentiras e conflitos internos, agitar bem… agitar bem e deixar escrever.

O sonho estava acordado, Já há duas noites que não conseguia dormir. Tinha dores de barriga e estava inchado de medo de não conseguir voltar a ter as noites tranquilas de sempre. Sentia as entranhas da alma na fronte do pensamento e rebolava impacientemente na sua cama de exaltação.

Contava carneiros, ouvia a respiração, cheirava flores imaginárias, meditava, pensava em paisagens tranquilas… nada. Não conseguia fazer o que sempre fizera toda a vida: dormir!

Decidiu pegar num personagem imaginário (W. Sterck), juntou-lhe mentiras e conflitos interiores e levou-o pelos campos do pensamento na esperança de conseguir adormecer.




Wanderlei Sterck vendia água de coco na praia de Copacabana, às meninas de biquíni desaparecido e fio dental, ou seja, a todas. Andava pela areia escaldante a apregoar o olho, enquanto regalava a venda. Quer dizer… isto era o que sonhava quando estava acordado, porque quando estava a dormir sonhava que estava acordado.

Mentira! A verdade é que não conseguia dormir já há muitos anos e estava inchado de medo de nunca mais o conseguir fazer. Também não se chamava Wanderlei, mas sim Wanda Sterck e era travesti nas noites de Lisboa. Talvez por isso não conseguisse dormir, pois tinha que o fazer de dia quando devia estar acordado. O desgosto que causara ao seu pai, serralheiro mecânico de profissão e de atitude, é que o mantinha vivo, e acordado, pois as danças pela noite rendiam bom dinheiro.

Mentira! Chamava-se Winthorp Sterck the III e era filho de um banqueiro inglês podre de rico e de carácter. Sonhava com as praias do Brasil e os biquínis que por lá andavam a dançar em corpos bronzeados. No entanto, tinha que trabalhar 12h por dia fechado no banco do seu pai. Era o preço do seu dinheiro mentiroso.

Mentira! Warajad Sterck Rashid era um realizador indiano de filmes sobre sonhos que nunca contavam a verdade e que estavam sempre acordados. Era viciado no corpo da mulher e muitas vezes vestia-se como uma. Sofria de uma grave crise de identidade, que se revelava muito útil para criar personagens para os seus filmes, mas que nunca o deixava dormir. Esta é a única verdade.


Quase sem dar por isso, o sonho finalmente adormeceu.


Bilhetado por Brunorix às 16:56

11
Mar 09
A cidade, a minha, amanheceu verde. Não de esperança, mas de vergonha. Este sentimento estranho de quem sofre sem fazer nada, de quem não tem intervenção nenhuma nos acontecimentos, mas que ri e chora com os resultados, deixa-me envergonhado.

Então o que aconteceu?! Perguntam as outras cores inchadas de prazer com aquela pontaria coincidente de se cruzarem connosco nos sítios onde passamos sozinhos todos os dias. Não sei o que responder, mas sinto vergonha na resposta.




Não sinto vergonha por ser adepto, mas sinto por ter no arrepio da pele o incómodo de um desfecho vergonhoso para o qual não contribuí, e até me insurgi, mas que me deita por terra a esperança, a tal verde.

A força dos homens jaz nas atitudes, no brio e no empenho das causas. Os interesses financeiros minam as paixões e a minha vergonha deve ser superior à dos que não tiveram força, mas reclamam os seus interesses diariamente. Vergonhoso.

Tenho vergonha, mas não quero apagar da memória a humilhação de um país que constantemente se subjuga a outras potências e que frequentemente deixa a marca da mediocridade, seja no desporto, seja em tudo o resto. Que este dia não se esqueça, sobretudo para que não se repita, e se mantenha bem aceso na memória dos que sentiram a cidade, a nossa, a amanhecer verde de vergonha.
Bilhetado por Brunorix às 11:43

10
Mar 09
Ganda maluco! Assim para começar é o que ocorre a qualquer pessoa que atravesse o arame deste “Crime Artístico do Século”. Uma história de vida, da paixão de uma vida e do prazer de correr atrás dela. Um documentário muito chegado ao filme de ficção, mas com a grande diferença de ser todo com factos reais, pessoas reais e paixões reais.

Até para não amantes de documentários, como eu, a rendição à emoção é inevitável e a travessia de o ver não deixa ninguém indiferente. Não conheço os outros concorrentes, mas este parece bem merecedor do Óscar. Philippe Petit perseguiu um sonho e atravessou-o. A ver sem falta.

Bilhetado por Brunorix às 17:44
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Era, e foi, uma vez, uma Relação que nasceu ralação. Não tinha sido escolhida, mas imposta pelas circunstâncias da vida. Era de descendência. Nutrida de estranhas formas de manifestação, foi crescendo nas agruras de cada virar de esquina sempre com muito poucas rectas.

De mãos dadas com a relação andava sempre o Orgulho. Imponente e autoritário fazia da indiferença diária a batuta regente. Era convincente. Abafava a Injustiça, uma prima afastada – por imposição -, com uma facilidade tremenda. Brandia argumentos de adulta sabedoria sem olhar a meios, nem receios.




Acabaram por se juntar de vez. A Relação e o Orgulho. Assim viveram por anos fora, cá dentro, no acomodar de um sono acordado. Nunca se contestaram de razões, mas também nunca se amaram com paixão, apenas se esfregavam mecanicamente.

Foram esgotando a vivência pelo desgaste. Pisaram respeito e cuspiram amargura, sem ternura, sem efeito.

Divorciaram-se, porque a Relação estabilizou por crescimento das partes não sendo hoje o que era. Limita-se agora, às banalidades do depois sem grande esperança de mudança. No entanto, o Orgulho continua presente.

Porquê?!

Bilhetado por Brunorix às 17:40

A tolerância é a filha da dúvida.

Erich-Maria Remarque

Erich Paul Remark
(1898-1970)

Bilhetado por Brunorix às 12:50
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09
Mar 09
Junto às três instigações anteriores, a opinião dada e sentida, de que só pode ser bom. Como o filme me impressionou sobremaneira aqui vai o livro para juntar aos eleitos e a eventuais opiniões dos outros membros, do Clube, não do corpo.


4 – O LEITOR – Bernhard Schlink


Amanhã estarão de lado, ali ao lado, para começar a feroz e acesa luta pelo lugar do pódio. No final apenas um vencerá, não há lugar para segundos. Até depois de hoje, podem dar sugestões.
Bilhetado por Brunorix às 16:42

O murro de Berlim. É o que me sugere este filme soberbo que me levou a uma sala de cinema atrás de uma oscarizada Kate Winslet (bem merecido), sem saber muito e sem esperar nada. Ainda bem! Pois é cada vez mais a minha predisposição preferida para descobrir novas emoções cinematográficas. As surpresas sabem a mais e as emoções aumentam no exponencial do desconhecido. Adorei!



Se tivesse ganho o Óscar para melhor filme (era um dos nomeados), também não chocava nada. Confesso que se fosse agora o meu coração de espectador não especialista teria mais dificuldade em votar, embora concorde com o que ganhou, que até foi a minha aposta.

Uma história brilhante, dura (muito dura) a provar que um bom argumento pode facilmente dar um bom filme. Um período conturbado da história mundial visto em perspectivas sobre as quais nem nos lembramos. No fundo, também uma história de amor que me deixa muito curioso em ler o livro para confirmar se o mérito está na origem. Por mim, dou 5 em 5 e considero proibitivo perder este filme.

Bilhetado por Brunorix às 12:18
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- Jogo dificilissimo!

Rui Costa
(director desportivo slb)




06
Mar 09
Abriu os olhos e o tecto era branco. Deitado em lençóis brancos, sentiu o aperto das brancas paredes a tocar o seu pijama branco. Sentia um cheiro branco a remédio e o dia ou a noite que o envolviam, eram seguramente brancos.

Não sabia se se conseguia mexer ou não, mas sentia-se leve e eternamente jovem. Voltou a fechar os olhos. Voltou a abrir. A ladear o seu leito estavam agora duas mulheres com batas brancas. Os seus olhares eram de um lascivo angelical. Destaparam-no. Despiram-no. Despiram-se.


Enquanto os dentes muito brancos de uma já rodeavam a sua glande excitada, a outra beijava-o com a dose certa de intensidade. Carinhosamente levou-lhe à boca um lindo seio de um redondo branco perfeito com um excitado mamilo em tom rosa maternal.

Mais abaixo, o outro anjo do prazer sentava-se na sua erecção surpreendida oferecendo-lhe o seu interior húmido e quente. De costas para ele e com as mãos nos seus joelhos, dançava ao ritmo lento da penetração num vaivém de brancas nádegas.

Mais acima, outros lábios vermelhos de ansiedade pousavam na sua boca deixando que a sua língua descobrisse todo o seu sabor interno. De costas viradas, os anjos dançavam. Instintivamente viraram-se uma para a outra e trocaram beijos, carícias, mais beijos, mais carícias e mamilos. Continuavam a dançar.


Como num filme, a câmara suspensa percorre o espaço revelando imagens de um homem deitado com duas mulheres sentadas em cima de si, beijando-se de excitação, e oferecendo os seus respectivos segredos molhados, em movimentos de suave luxúria. À volta uma auréola de luz branca.

A conjugação de movimentos e do ritmado prazer atingia proporções celestiais. Os anjos iam trocando de posição, apenas ele permanecia deitado. Na imensidão do tempo e das trocas, atingem o pleno dos três orgasmos numa sequência angelical de um branco estridente. O abafado prazer sorria de branca ternura.

Os dois anjos retiram-se e fecham a porta. Ele adormece de vez e para sempre.


- Podia jurar que ele estava a sorrir enquanto lhe fazíamos a cama.
- Coitado. Preso dentro de um corpo à espera que tudo se acabe, sem sentir, sem sonhar...


Bilhetado por Brunorix às 17:43

Passíveis do ainda comentário angelical, as vicissitudes do Jogo dele ainda deambulam aqui pelo Clube. As participações não têm sido acesas, mas o compromisso inicial permanece erecto: basta um de vós para que tudo continue.

Na senda das causas quase perdidas, seguem as propostas para a votação do próximo livro. Deixo três pontapés de saída, que ficam para juntar com eventuais sugestões de prezados membros. Para a semana a votação estará ali no lado direito.


1 – OS MEUS SENTIMENTOS – Dulce Maria Cardoso




2 – A TÁBUA DE FLANDRES – Arturo Pérez-Reverte





3 – O ÚLTIMO CABALISTA – Richard Zimler




Bilhetado por Brunorix às 11:18

05
Mar 09
Noite de inauguração diferente em tom mais quente. Mas como a Arte é dom de quem cria, muito prezado se viu este artista. Muita qualidade em pintura quase fotográfica, não obstante os temas, mas que a mim ignorante nestas andanças me convenceram pela pincelada.


A exposição está patente de 5 a 29 de Março, na Sala do Veado no Museu Nacional de História natural. Aqui fica o site do autor em jeito de continuação da demanda de divulgação cultural, sobretudo a de qualidade.




A subtileza das mensagens, nas imagens nada subtis (se calhar a PSP ainda aparece por aqui para fechar este blogue) dá força a uma expressão artistíca e pessoal traçada em tons quase tridimensionais. Parece que os quadros nos olham e que podemos tocar aqueles corpos. A não perder.


P.S. – Os pormenores morrem no tamanho. Quando lá forem vejam este papel de parede...
Bilhetado por Brunorix às 13:49

Numa floresta de cimento urbano, mas verde, vivia um Tigre que não era zarolho e um Zarolho que não era tigre. Eram amigos desde a infância e suavizavam o passar dos anos em animadas conversas de índole Marxista/Leninista numa perspectiva de implante político de silicone opressivo e obsessivo.

Juntos se consideravam e olhavam o mundo (um deles assim de esguelha) na ilusão jovem de quem consegue tudo e não tem muito com que se preocupar. Até que um dia, já depois de ter saído de casa dos pais, o Tigre foi despedido da fábrica de automóveis onde trabalhava ia já para uma mão cheia de anos, mas vazia de indemnização.



Caído nas malhas do subsídio de desemprego começou a perder o lustre nas riscas e a pose felina, enquanto se arrastava de formação em formação pelos centros de emprego à espera de uma proposta milagrosa. Enquanto isso, o Zarolho ia subindo degraus na sua gorda carreira de sócio/gerente de uma fábrica de óculos escuros, que aliás usava sempre - dia e noite.

Errado dia, cruzam-se no corredor da casa que partilhavam, e momentos antes de o Zarolho falhar a porta da casa de banho e dar uma marrada na ombreira, o Tigre cai de fome aos seus pés. Surpreendido, o Zarolho fecha um dos olhos e repara pela primeira vez como ele estava pálido e magro. Umas malgas de água com açúcar depois, o Zarolho deixa cair o queixo (que o Tigre comeu logo tal era a fome) ao inteirar-se de que o seu amigo de vida, e de casa, estava no desemprego, sem dinheiro e com fome, quase há 1 ano.

Sentido vergonha na já rubicunda face, acalmou o Tigre dizendo-lhe que não se preocupasse porque tinha muito dinheiro no BPN e ia ajudá-lo. Aliás, estava com ideia de investir num negócio de um Freeport e ia nomeá-lo gestor do projecto.

Alguns dinheiros depois o Tigre perdeu a palidez e a fome e ganhou prosperidade financeira, ao mesmo tempo que abraçou a carreira política. Fundou o PND (Partido do Novo Dadaísmo), uma nova força de extrema esquerda e direita com assento no meio. Perdeu as riscas de vez e ganhou pêlo na venta, sendo por isso, agora, um Leão.

Entretanto naquela floresta, rebentam alguns escândalos que afundaram o Zarolho (qualquer coisa a ver com o banco parece), mas mantiveram o Tigre, isto é Leão, bem à superfície da conjuntura político-social. O Zarolho tentou fugir para o Brasil, mas esqueceu-se de fechar um olho e comprou um bilhete para Braga. Acabou por se envolver numa empresa de parques, mas deu rolho também.





Moral da história: Em terra de zarolhos, quem foge às riscas é o rei!

Bilhetado por Brunorix às 12:26

04
Mar 09
- Ganda jogo pá!
- Olha, olha… queres ver… rematou… gooolooo!!!
- Ah que Tonel, ganda golão!






P.S. – Para os menos familiarizados, aqui está ele: António Leonel, conhecido no futebol por Tonel!


Bilhetado por Brunorix às 12:53

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