Escritas do fundo do mar

24
Mar 09
Pede palavras de consolo e eu não tenho para escrever. Pede imaginação para as frases e eu não tenho para ditar. Pede memórias escritas e só me lembro do futuro. Pede risos de vida quando me apetece é chorar. Pede pensamentos tristes e desato-me a rir (talvez esteja atado de pensamentos). Pede assuntos sérios e digo parvoíces. Pede ternura e mancho-a de azedo. Pede agressividade e pinto-lhe flores.

Perante a candura dos pedidos, rogo pragas à parcimónia criativa da minha alma e corro pelas escadas do tempo em busca de letras. Abro e fecho portas com diversos temas, escondo problemas e destapo alegrias. A seguir construo janelas, abertas. Deixo respirar a vontade, e a verdade… mas a folha continua branca.



Dou-lhe três voltas no sentido da fantasia e sento-me no devaneio da procura. Que loucura. A necessidade da escrita torna angustiante o bater do tempo. O metrónomo da monção alvitra questões de paz podre em igreja de serventia. Quem diria.

A inocência de ser apenas branca, embora folha, faz-me rir de malvadez criativa, mas aterroriza-me a caneta da acção e nada me apetece. Acontece. Sinto passar as convicções em bandejas de apatia. Provo uma.

Seca-se-me a tinta da criação perante imaculada folha. Olho para ela mais uma vez, e sem saber o que fazer… faço apenas isso mesmo. Preencho-a.

E a mim também.

Bilhetado por Brunorix às 18:20

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