Tentou extrair do sonho a força para o passo seguinte, mas a perna da motivação não se mexia e a da vontade estava coxa de esperar. Decidiu ir tomar um vigoroso banho da temperatura possível, naquele cubículo partilhado no corredor, que alguém ironicamente chamava de sala de banho.
Saiu à rua para procurar esperança e quem sabe trabalho. Longe iam os seus tempos de escritor e desde que a sua caneta de imaginação secara, nunca mais tinha conseguido escrever uma única palavra. Desde essa altura que não parava de descer escadas na vida e em dois anos passara do tudo ao nada. Já nem nome tinha.
Caminhava na tentativa de se lembrar quem fora quando um choque de coincidência bateu na sua cara. Um papel gasto e sujo continha apenas uma morada. Sem saber porquê, decidiu experimentar e fez-se à rua procurada.
Quando chegou, subiu ao 3º andar e dirigiu-se à única porta, verde, que ficava no fundo de um corredor de expectativa. Como não havia campainha, bateu com força na porta de madeira e à terceira pancada a porta abriu-se. Do lado de lá do espanto, um magnífico jardim de todas as cores convidava o seu olhar a entrar. A imensidão perdia-se de vista e o seu queixo caía na incompreensão dos sentidos. Até o cheiro era real.
(continua)