Escritas do fundo do mar

24
Out 08
A música alta não permitia muitas conversas. A agradável tontura de algumas bebidas, tornava afoita a troca de olhares, permitindo alguns sorrisos atrevidos. Na verdade, eram as duas únicas pessoas da festa que não estavam acompanhadas. O jogo de sedução parecia criar uma redoma em torno dos dois, embora estivessem em cantos opostos da sala.

Várias bebidas, olhares e sorrisos mais tarde a distância encurtou para a proximidade de um cheiro. As palavras não eram necessárias naquela partilha. Todos os outros sentidos estavam em alerta máximo e a temperatura aumentava a cada minuto de sedução.

O calor das vontades tornava rosadas as faces da vergonha, que era cada vez menos, e um aquiescer de olhar foi suficiente para aceitar o convite de uma mão estendida. O desejo e a luxúria caminharam de mãos dadas na busca de um quarto vazio. Do lado de lá da primeira porta, dois corpos já nus numa dança de suor indicavam uma já ocupação.

Alguns sorrisos de cumplicidade mais à frente, encontraram uma porta entreaberta para o desejo. Na escuridão adivinhava-se uma divisão espartana, mas perfeita para os intentos lascivos que se adivinhavam. Porta trancada e duas bocas que se encontram no escuro, sem conseguir aguentar mais a distância.

O bailado de duas línguas ávidas, foi aumentando a tensão e desapertando incómodos e barreiras. Encostada à porta, sentiu de repente um ajoelhar que lhe tirava as cuecas com os dentes e lhe levantava o vestido, desnudando a pele que era beijada ao ritmo do desejo que se tornava cada vez mais incontrolável. Uma língua percorria todos os seus contornos, dando voltas de falso pudor antes de se concentrar no seu interior húmido e ardente. Ao primeiro contacto, sentiu um arrepio orgásmico que deixou a sua cabeça ainda mais à roda. Sentia vontade na retribuição.




Trocados os joelhos que estavam no chão, desapertou-lhe os botões das calças um a um deixando antever todo aquele prazer inchado. Uns boxers mais tarde e engolia com volúpia uma erecção descomunal de ansiedade há muito esperada. Abocanhar, lamber e chupar fizeram parte da dança que se seguiu em ritmos molhados.

Ansiosamente retiradas as poucas roupas que ainda sobravam, encontraram-se sobre um chão frio de tanto calor que suportava, numa ávida luta carnal de incontrolável desejo descoberto, com um tom de familiaridade sempre presente. Uma cavalgada incessante marcou o tempo seguinte, dominado pelas rédeas ardentes da paixão. Uma penetração de intensa profundidade fundia suores, sabores e cheiros. Agora de cócoras, agora de gatas, mas sempre numa oferta submissa, penetrada por doce partilha de intimidade. Aqueles corpos amavam-se no momento, confundindo sentimento e desejo com expectativa e certeza.

Vários orgasmos mais tarde, entregaram-se ao descanso merecido depois da intensa batalha de tesão sentido e abusado. A verdade escondida pela loucura lasciva, fazia sorrir de nudez dois corpos que contemplavam o tecto ainda ofegantes:

- Foi uma óptima ideia termos vindo a esta festa!
- Pois foi... anda, veste-te depressa que ainda temos que ir buscar os miúdos a casa da minha irmã!

Bilhetado por Brunorix às 20:08

O cheiro a destino pairava no ar. O vermelho vivo de felicidade de Lupe, contrastava com o verde pálido de aceitação de Pepe. O fiel da balança tombava para o lado da inevitabilidade e o contraste das emoções ardia a olhos sentidos.

Tomei o meu lugar na longa fila de suor, esperando a minha vez para desejar felicidades aos noivos. A temperatura num México sempre escaldante, rebentava com todas as escalas de aceitação para um Europeu como eu, naquela tarde de actos consumados. Chegada a minha vez, felicitei os nubentes e entre abraços e beijos congratulei-me por ter reparado qual era o que usava vestido, pois a julgar pelos dois bigodes, que igualmente me picaram, podia ter ficado baralhado.




O aliviar de um casaco agradavelmente colocado nas costas da cadeira, permitiu que a minha camisa finalmente descolasse das costas. Emocionado pelos 40 graus mais suaves daquele dia, apresentei-me aos restantes convivas da minha mesa, explicando que estava ali para fazer uma reportagem sobre o concurso mundial de noivas de Santo António, na tentativa de justificar o que fazia alguém como eu no meio de alguém como eles. Acho que não perceberam mas aceitaram-me à mesma, permitindo que saboreasse todas aquelas iguarias maravilhosas que em nada se pareciam com os sabores que conhecia da Cantina Mariachi do Colombo. E das Amoreiras. E… do Gaiashopping. E doutros shoppings que tais.

Na terceira rodada de tequila, lembro-me vagamente de ter esborrachado alguns feijões com a testa aquando da queda da minha cabeça para cima da mesa. Duas tentativas mais tarde, para a levantar, sorri parvamente para os restantes dizendo que sardinhas e vinho tinto é que era difícil de aguentar e que aquilo não era nada! Não contente com a maravilhosa actuação até então, decidi bater ruidosamente no copo com o garfo para ver se os noivos se beijavam. Alguns tiros depois (do pai da noiva), percebi que não era boa ideia.

Altamente bebida ia a noite, quando achei que era chegada a minha hora. Procurei os noivos entre cadeiras que teimavam em atravessar-se à minha frente e chegado ao destino quase impossível, renovei votos de felicidade entre promessas de uma magnífica crónica sobre o casamento deles, alvitrando as grandes hipóteses que tinham de ganhar o almejado prémio. Santo António já tinha abençoado aquele casamento de certeza… pelo menos da parte que me lembro!


P.S. - O Objectivo é descrever um casamento no méxico, recorrendo a todos os sentidos menos a visão. 10 minutos.

Bilhetado por Brunorix às 11:47

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