Escritas do fundo do mar

20
Out 08
Se calhar é um bocadinho de mais. Eu sei que eles são todos modernos, mas estes rolos na cabeça… não sei… na rapariga da Caras parecia ficar bem.
E o jantar?! Será que devia ter feito qualquer coisa? Mas estes ricaços… nunca sei o que é que eles comem! Além do mais, não quero que ela pense que sou saloia! Li na Maria esta coisa da emancipação… não sei se era bem isto… o Armandinho é que não achou piada nenhuma! Ter que ir buscar frangos… enfim, seja o que Deus quiser!

(trim, trim)

Ui, devem ser eles… força e coragem Alzira!

“Olá meus queridos! Bem vindos! Ana, Francisco… como estão?”

“Olá Alzira, como está? Gosto do seu penteado!”

Olha, parece estar a resultar… se calhar usa-se mesmo!
“Gosta?! Fui de propósito ao cabeleireiro! Parece que agora está na moda… estes penteados com os rolos postos!”

“Ah… não me diga?! Mas fica-lhe muito bem! O seu marido não está?”

Agora é que ela se rende a esta mulher moderna que eu sou!
“Vem já… foi lá abaixo buscar os frangos para o jantar!”

“Os frangos?! Que bom adoro frango!”

Eu sabia. Eu sabia!
“Sabe Ana, parece que agora é moderno as mulheres não fazerem o jantar. Como eles também não sabem fazer, manda-se vir tudo de fora! Não acha o máximo?”

“Ai, acho, acho. Super original. A mim nunca me tinha acontecido…”

“Olhe, a campainha… Francisco, não se importa de abrir? Deve ser o Armando com os frangos. Depois se não se importa ajuda-o a pôr a mesa, enquanto nós duas pomos a conversa em dia!”
Esta agora é que eles não aguentam! E este também faz cara de parvo como o meu, quando lhe disse para ir comprar os frangos…
“Depois de tantos anos de opressão chegou a nossa vez! Não acha Ana?”

“Desculpe… estava distraída.”

“Estava a perguntar se não acha que depois de anos e anos de opressão chegou a vez de sermos servidas?!”
Não me digas que esta não lê a Maria! O que é que ela fará no cabeleireiro?

“Ai, sim, sim. Sem dúvida. Lá em casa também é sempre o Francisco que compra os frangos!”

“Pois faz muito bem! Aqui a vizinha do 3ºEsq também anda a aprender estas novas tácticas! Mas não estamos aqui para falar disso… temos muito que combinar sobre o casamento dos nossos pombinhos. Que a propósito devem estar quase a chegar…
Sabe?! Tenho sonhado muito com este dia. O dia em que a minha Odete entra vestida de noiva numa igreja…”

“Igreja?! Mas o casamento não é no civil?!”

Olha agora… queres ver?! Isto não são já modernices a mais?!
“Disparate! Oh Ana. Não diga isso nem a brincar. Onde é que já se viu um casamento sem igreja?”

“Pois sabe… eu pensei que...”

Alzira Maria! Tu não te deixes ficar! Havia de ser bonito!
“Mas é que nem que a vaca tussa! E o que é que as outras pessoas iam dizer?!”

“Bem, não sei… já lhes perguntou a eles como é que queriam fazer?!”

Ai, ai, ai. Onde é que isto já se viu?!
“Não sei como é que educou o seu filho… mas a minha Odete, faz o que eu lhe disser!”
Ainda bem que vem aí o meu Armando… olha, olha, toda sorrisinhos para o meu marido…

“Olá Armando, com está?”

“Olá Ana. Espero que esteja a correr tudo bem… eu sei que a minha Alzira por vezes…”

Ai Armando Manuel, que logo a gente conversa!

“Não! Nada disso! Estamos a entender-nos na perfeição!”




* Exercício de ponto de vista. Curso Avançado de Escrita Criativa. Exercício A feito na aula nos 15 minutos disponíveis. Exercício B feito em casa como oposição ao primeiro. Mais ou menos no mesmo tempo.

Bilhetado por Brunorix às 15:31

Meu Deus! O que uma mãe não faz por um filho! Ainda agora só vamos no elevador e já me sinto em brasa! Mas porque é que a sociedade nos obriga a estes fretes?!

“Está tudo bem, Ana?! Estás com um ar tão pensativo…”

“Sim querido, tudo bem. Estou só nervosa com o jantar.”

“Então, vá lá. Sabes que fazemos isto pelo Pedro. Nada de cenas, sim?!”

“Claro! Por quem me julgas?! Vá, vá toca lá à porta e vamos despachar isto de uma vez!”

(trim, trim)

“Olá meus queridos! Bem vindos! Ana, Francisco… como estão?”

Meu Deus, o que é aquilo que ela tem na cabeça… rolos?!
“Olá Alzira, como está? Gosto do seu penteado!”

“Gosta?! Fui de propósito ao cabeleireiro! Parece que agora está na moda… estes penteados com os rolos postos!”

“Ah… não me diga?! Mas fica-lhe muito bem!”
Vá lá não ter aparecido de chinelos e roupão!
“O seu marido não está?”

“Vem já… foi lá abaixo buscar os frangos para o jantar!”

“Os frangos?! Que bom adoro frango!”
Eu nem acredito que esta pindérica não preparou o jantar…

“Sabe Ana, parece que agora é moderno as mulheres não fazerem o jantar. Como eles também não sabem fazer, manda-se vir tudo de fora! Não acha o máximo?”

“Ai, acho, acho. Super original. A mim nunca me tinha acontecido…”

“Olhe, a campainha… Francisco, não se importa de abrir? Deve ser o Armando com os frangos. Depois se não se importa ajuda-o a pôr a mesa, enquanto nós duas pomos a conversa em dia!”

Meu Deus… isto vai de mal a pior. Agora ainda tenho que dar conversa à lambisgóia! Ai meu filho… onde te vieste meter?!

“… não acha Ana?”

“Desculpe… estava distraída.”

“Estava a perguntar se não acha que depois de anos e anos de opressão chegou a vez de sermos servidas?!”

“Ai, sim, sim. Sem dúvida. Lá em casa também é sempre o Francisco que compra os frangos!”
Bolas, não posso dizer estas coisas. Prometi e mim mesma que me portava bem.

“Pois faz muito bem! Aqui a vizinha do 3ºEsq também anda a aprender estas novas tácticas! Mas não estamos aqui para falar disso… temos muito que combinar sobre o casamento dos nossos pombinhos. Que a propósito devem estar quase a chegar…
Sabe?! Tenho sonhado muito com este dia. O dia em que a minha Odete entra vestida de noiva numa igreja…”

“Igreja?! Mas o casamento não é no civil?!”

“Disparate! Oh Ana. Não diga isso nem a brincar. Onde é que já se viu um casamento sem igreja?”

Bem, deixa-me cá pensar… viu-se meu, o da minha irmã… o da maioria das minhas amigas…
“Pois sabe… eu pensei que...”

“Mas é que nem que a vaca tussa! E o que é que as outras pessoas iam dizer?!”

“Bem, não sei… já lhes perguntou a eles como é que queriam fazer?!”

“Não sei como é que educou o seu filho… mas a minha Odete, faz o que eu lhe disser!”

Tirem-me deste filme, por favor! Ah! Aí vem o totó. Salva pelo homem dos frangos!
“Olá Armando, com está?”

“Olá Ana. Espero que esteja a correr tudo bem… eu sei que a minha Alzira por vezes…”

“Não! Nada disso! Estamos a entender-nos na perfeição!”



Bilhetado por Brunorix às 13:26

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