Caídos os pudores da socialite vigente, de tudo senti um pouco e da experiência muita, muita vi gente: foram betos e doutores, aleijados e safados, nacionais e estrangeirados, sacanas e drogados, condecorados ou sem louvores, curiosos e experimentados, pobres e abastados, de passagem ou ali plantados, malfadados e outros estupores! A todos vendi, a todos senti, a todos conheci e falei. Não sei de onde vim, mas sei que cresci assim, na experiência do que ali fiquei.
Fiz do cedo a necessidade da partida e ainda a noite era, quando da cama descolei. Passei do frio ao que depois se viu e chuvi da experiência, a veterania da amizade. Cruzei a fronteira da necessidade e passei para lado da vontade, a efectividade do teste que vi e senti. Troquei capas de ajuda por toldos de tradução, vendi esquecimentos de dor aguda e a nenhuma oferta disse que não. Vendi o passado para ajudar o presente e senti no acto dado, a marca do que já foi e agora não se sente.
Senti na chuva o frio do sol e aqueci na neblina da esperança a secura da mercadoria. Ajudei pró lado, vendi prá frente, fiz do molhado o valor do corpo quente. Sei que quase dei, mas senti que aproveitei nas 12 horas que ali passei, o reconhecimento das realidades que outrora ouvi e que agora já sei!
Dei mais um passo, na direcção do que é preciso. Para sentir que tudo faço, quando da vida não sinto cansaço e quando do que sei, faço sorriso! Foi assim que vendi e olhei, o cheiro da inclinação de uma cidade, que do meu berço fez a idade e da minha vitória o testemunho que dei.
- Tens calças, mano?
- Tenho de tudo, bacano!
- É só para trabalhar.
- É escolher e levar!
- Voltas cá prá semana?
- Se a vontade não me engana!
- Esse padrão já não veste.
- É do tempo, tá agreste!
- Este se calhar aperta.
- Fica a 5, é a nota certa!
- Lá em cima táva mais barato!
- Já viu bem a qualidade do sapato?!
P.S. – Se da vontade minha eu fosse, fazia da música 8 ali do lado, este meu fado, para criar o ambiente que a música nos trouxe.