Escritas do fundo do mar

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Abr 08

Apanho no jardim da desculpa a verdade sabida de que o que não tem remédio, remediado está. Coloco no vaso das más experiências e rego com reflexão sentida e ponderada. Deixo crescer ao sol da razão e apanho os frutos da sabedoria que mastigo na avidez da esperança de que não se repita.

Mais vale a discrição de um silêncio que o silêncio de uma indiscrição! O sentir do calor a subir pelo estômago quando confrontados com a realidade do impacto não ponderado, embora não intencional, mas evitável. A terrível sensação de impotência perante a incapacidade de não conseguir apagar aquele pequenino momento. Faces ao rubro, coração em aperto e o reconhecimento da falha. A maldita frase mal dita! Mas porquê?!

Já está, já está! Já foi, já foi! Saiu e ficou. Mas incomodou?! Na certeza do sim sentido jaz a culpa não apagada. A que foi criada. E agora que foi enterrada, salve-se a verdade inconsequente de que, pelo menos, não foi pensada!

Mil desculpas!


Tenho saudades do que vivi e já não vivo mais, do que podia ter vivido de outra maneira e do que nunca vivi. Tenho saudades do tempo em que o tempo estava parado e não corria desta maneira e em que eu não tinha que correr contra ele.

Tenho saudades de descansar sem me cansar e de me cansar descansado. Tenho saudades da areia que me fugiu pelos dedos e dos castelos que as ondas desmancharam. Tenho saudades dos luares inconsequentes e da consequência dos luares.




Tenho saudades das férias de 3 meses e dos meses sempre de férias. Tenho saudades de não ter horários e das horas que não tinha. Tenho saudades de ir jogar à bola na rua e de me sujar ao ar livre. Tenho saudades do campo e do ar respirável. Tenho saudades de carregar a mochila da escola e de ir para a praia durante a semana.

Tenho saudades dos amigos que já nem sei e de não saber as amizades que tinha. Tenho saudades de sair para o recreio e de recrear as saídas. Tenho saudades das encruzilhadas da decisão e das decisões encruzilhadas. Tenho saudades de ti, de mim e de nós. Tenho saudades dos filmes que não me lembro e das lembranças filmadas. Tenho saudades da música ensinada e da aprendizagem musical.

Mas tenho, acima de tudo, saudades de não ter saudade de nada!
Bilhetado por Brunorix às 14:01

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