- Queres mudar-me?
Pensei, repensei, reflecti, aquiesci mas inquiri:
- Mudar-te para onde?
- Não é para onde, é como! Já te perguntaste o que podes fazer comigo?
- Bem… na verdade pensei pouco. Mas posso fazer um exercício rápido e dizer por exemplo… hum… por exemplo… posso… sei lá, tanta coisa!
- Ou coisa nenhuma, como fazes agora!
- Que exagero! Não é bem assim… eu faço. Eu até faço! Eu faço… deixa cá ver… ah… bom, mas não fazer nada também é uma arte! Não fazer nada é uma maneira de fazer alguma coisa!
- Isso é para convencer quem? Não te iludas… se não fizeres nada por mim eu também não vou fazer nada por ti!
- Mas que vida a minha! Pensei. Mas agora a vida também já tem opinião própria? Onde é que isto vai parar?! Qualquer dia é a vida que comanda o sonho!
Não pode ser! Não se pode deixar que isso aconteça. Todos sabemos que é o sonho que comanda a vida! E a minha vida não pode ser diferente e o meu sonho também não! (…)
Abençoado pelo acaso, deu à costa da minha existência uma onda de esperança. Uma onda de mudança que me fez olhar para tudo de outra maneira. Em boa hora acolhi nas minhas areias aquela água de um mar doce e salgado que alisou por completo todas as inconstâncias do passado. Olhei, senti, fiquei e sorri… o sol aquecia esta decisão e a vida ao caminhar chapinhando nesta água terna e morna, encheu o peito de ar e gritou:
- ADOREI O QUE FIZESTE COMIGO!!
Sorrimos e juntos caminhámos satisfeitos na minha praia com a alegria e a inocência de duas crianças satisfeitas, duas crianças comandadas pelo sonho, comandas pela vontade, comandadas pela tranquilidade de existir!
Desde esse dia a vida nunca mais saiu da minha praia, desde esse dia que a vida brinca na onda que chega todas as manhãs. Desde esse dia percebi que a onda do teu mar chega à minha praia, à praia da minha vida!