Quando ele entrou na sala as luzes da árvore acenderam. Largou estupefacto os sacos que carregava e embeveceu-se a olhar aquela deusa de negra nudez, que estava na sua sala, junto da sua árvore, apenas com o seu gorro na cabeça.
Enquanto ela lhe retirava a roupa, ele ia hesitando na vontade e no desejo que lhe crescia, balbuciando cada vez mais descontroladamente que não podia… que era casado… que tinha vontade… que sempre fantasiara com isso… mas não podia… mas queria…
Um olhar de malícia experiente aproximou-se do seu tremor nervoso e num bailado de volúpia cantou as palavras certas:
- Podes sim. Eu sou a prenda que sempre quiseste.
Dito isto ajoelhou-se à sua frente. As mãos escuras sobressaíam naquele corpo branco e admirado, percorrendo todos os poros de desejo. O espanto aumentava-lhe a excitação e ainda na incerteza sentia toda a sua vontade a afluir numa erecção descomunal de delírio claro, que já desaparecia naquela boca de pele escura. A mistura das cores aumentava-lhe a temperatura do sonho.
Há muito desejava aquele encontro de peles contrastantes e quando se viu saído daquela boca experiente, ajoelhou-se também. Ainda a medo passou as suas mãos muito brancas naquele tronco de carvão escaldante que ostentava uns pequenos seios de bicos muito escuros e muito excitados. Não resistiu ao aproximar, e abocanhou-os mordiscando de prazer aquela rigidez fruitiva.
Ela deitou-se e ofereceu toda a sua abertura quente num rosa húmido, ansioso de o receber. Mais uma vez as cores. Branco, preto e rosa surgiam naquela palete de penetração. Por baixo, por cima, em todas as posições reinavam os contrastes lascivos das suas cores distantes de união. Não aguentava mais e rebentou na força das imagens.
Na sala, apenas as luzes da árvore se ouviam. Deitado sobre as costas ofegantes só teve tempo de um último vislumbre sobre aquele corpo de um negro escultural que já se afastava. Arriscou a dúvida:
- Mas quem…?
- Fui a prenda da tua mulher, Feliz Natal!