Escritas do fundo do mar

25
Nov 09
E continuarei a divulgar até que o assento me doa. O que já nem acontece mais, pois o Meridional até tem assentos novos. Acabou-se a desculpa do: “Teatro?! Ah e tal faz-me doer as costas!” Não, agora essa já não pega. No entanto, a sala estava a meio esforço. Mas enquanto houver os que se esforçam, brilhantemente, do lado de lá, eu continuo a aplaudir (de pé!) do lado de cá.



Mais uma magnifica viagem no imaginário teatral. Depois de uma extraordinária ida a Cabo Verde, Natália Luíza e companhia atiram outra pedrada eficaz em charco simples. Uma excelente, e multi-facetada, interpretação de Gina Tocchetto acompanhada de outra excelente, e multi-musicada, banda sonora de António Pedro. Se uma interpreta muito com muito pouco, outro tira sons lindos de coisa nenhuma. Mais uma vez o Meridional aposta na simplicidade cénica em favor da riqueza da palavra e do som. Muito bom! Não sentimos falta de nada para perceber tudo (só de mais publico!).

Depois de ter começado em Faro, pode ser visto em Lisboa até dia 19 de Dezembro e de seguida vai percorrer várias salas do país. Por isso, ainda podem (e devem) ouver os sons e as palavras deste Brasil em viagem. A não perder!
Bilhetado por Brunorix às 11:40
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10
Jul 09
Louvados os caminhos que nos levaram nesta Caravana. A seda que se sente, que se vê, que se vibra, transporta a emoção no sentido da cor. Os olhos trabalham muito e os ouvidos sentem cada passo dado no imaginário. O cheiro a qualidade já é habitual nas produções do Meridional e as despidas encenações vestem-se com muita magia.

Nas palavras dos próprios: O Teatro Meridional é uma Companhia portuguesa vocacionada para a itinerância que procura nas suas montagens um estilo marcado pelo despojamento cénico (absoluta verdade!) e pelo protagonismo do trabalho de interpretação do actor (mais verdade ainda!), fazendo da construção de cada objecto cénico uma aposta de pesquisa e experimentação (comprovo, eu vi!). As principais linhas de actuação artística do Teatro Meridional prendem-se com a encenação de textos originais (lançando o desafio a autores para arriscarem a escrita dramatúrgica), com a criação de novas dramaturgias baseadas em adaptações de textos não teatrais (com relevo para a ligação ao universo da lusofonia, procurando fazer da língua portuguesa um encontro com a sua própria história), com a encenação e adaptação de textos maiores da dramaturgia mundial, e com a criação de espectáculos onde a palavra não é a principal forma de comunicação cénica. (caramba! Onde é que assino?)



Mais uma sala a meio gás na realidade cultural do nosso país e no espanto da minha indignação. Entristece-me a indiferença e o desconhecimento. O medo de assistir a eventos menos mediáticos afasta as maiorias. Tenho pena… mas eu fui, continuarei a ir e a fazer o possível por divulgar.

Bilhetado por Brunorix às 16:52
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22
Jun 09
Sábado que começou em trabalho, e continuou em trabalho, acabou em teatro. Acabo por nunca perceber a inércia que afasta a maioria de nós desta forma de expressão viva, porque sempre que cedo à inteligência e me deixo assistir, fico encantado com o que vibro. Se em cada três idas ao cinema, fosse uma ao teatro entraria numa sala de espectáculos várias vezes por ano… mea maxima culpa. Mais algum culpado por aí?



O Deus da Matança de Yasmina Reza, em cena no Teatro Aberto, surpreendeu-me pela energia vivida numa sala azul com apenas 1/3 dos espectadores possíveis, o que se notou no arrepio triste do som de poucas palmas (embora reconhecidamente batidas por quem lá estava) no final. Notáveis interpretações (Paulo Pires, Joana Seixas, Sérgio Praia e Sofia de Portugal), muito riso, muita verdade e muito assunto para conversa de jantar.




Por falar em jantar… que extraordinário o restaurante (Pano de Boca) com que nos brinda o cair do pano no Teatro Aberto. Além do ambiente acolhedor e da agradável música ao vivo, podemos deixar-nos levar (eu deixei), por exemplo, por Medalhões de javali com molho de rosmaninho e natas, cogumelos bravos, rösti de batata, couve de bruxelas com bacon e pêra com bagas de murta e depois, porque não, uns Morangos frescos em massa folhada com gelado de baunilha e chantilly. Babam-se-me as teclas só de recordar tudo isto, que se consegue por um preço bastante acessível (com 10% desconto para quem traz o bilhete do espectáculo) e que merecia um muito maior destaque da parte de comunidade gastronómica. Adorei e espero voltar (de preferência em breve).

Sejam amiguinhos dos vossos estômagos, e da vossa cultura, e façam, se não uma, pelo menos as duas coisas. Vão ver como eles agradecem (ambos os dois).
Bilhetado por Brunorix às 18:19

02
Mar 09

Umberto Eco(ou) ontem no Convento de Cristo em Tomar para nós (e para outros 60) como o faz desde 2004, numa peça que dura 3h + 6 momentos de refeição, o que dá qualquer coisa como 5 horas, mas das pequenas, porque o entusiasmo é tal que não se dá pelo tempo a passar.




A originalidade desta representação (muito característica dos Fatias de Cá) transporta o publico com os actores pelas salas do convento, com 6 passagens pelo refeitório (excelentes para retemperar forças, comer e discutir animadamente sobre o que se viu e o que se irá ver) numa adaptação fantástica, diferente, envolvente e empolgante deste emblemático romance. É verdade que nada substitui a leitura e a 7ª arte que me perdoe (e o Sean Connery também), mas estar ali ao lado dos actores (na sua maioria amadores, mas com grande brio) a viver a história em todas as salas, andar com eles, comer com eles e sentir cada momento na pele (frio incluído), dá uma imensidão muito mais vibrante da história.

Vale toda a distância percorrida, a hora a que termina a um Domingo (+/- 23h), com o posterior regresso, e o preço (que é irrisório em relação a tudo o que oferece). Permite conhecer o Convento de uma maneira diferente e em sítios onde normalmente não se tem acesso, é um excelente meio de divulgação cultural e do património e merecia uma muito maior divulgação. Uma peça que está em cena há tanto tempo e que é mais conhecida pelo boca a boca do que por qualquer outro meio.



Temos que divulgar e ter orgulho nas coisas boas (aliás, muito boas) que se fazem por cá. Uma experiência totalmente diferente não só em termos de teatro como de gastronomia. É escandaloso, eu diria quase criminoso, perder a possibilidade de viver esta aventura.

Como bónus, e para tornar tudo ainda mais excitante, podem sempre deixar a carro aberto com a chave na ignição durante 6 horas em frente ao Convento, a ver se têm sorte. Nós tivemos!



Bilhetado por Brunorix às 19:01

03
Nov 08
Domingo de teatro, que gosto muito e devia ir mais vezes. A proximidade com o suor da representação, torna a viva a história que ouvimos e transmite o cheiro da realidade que ali se ficciona. Às vezes até os latidos são reais (como neste caso). Gostei dos actores, parabéns ao Bando. No entanto…



Confesso que ainda não li o Jerusalém do Gonçalo M. Tavares, embora esteja na pilha de desbaste que mora na minha mesa-de-cabeceira, mas chego lá para a semana. Apesar disso, e como bom português deixei para o último dia em que estava em cena, e fui para ver como era. E como foi?! Ganda cena!

Não sei… não percebi! Entendi a espaços a história, mesmo quem leu o livro não percebeu muito mais do que eu, não percebi o cenário (embora se confundisse palco e plateia de uma forma original), nem o cão (que me parecia de quando em vez aflito, o que me deixava ligeiramente incomodado), nem a iluminação (que entrava pela mesma porta que nós), nem a velhota (que saiu a meio e que só percebi não fazer parte do espectáculo quando vi uma funcionária atrapalhada atrás dela). Fico frustrado quando a cultura me é inatingível e quando me sinto burro na compreensão do que vejo (ainda por cima aquilo nem era palha era engaço!).

Felizmente, existem recursos à nossa disposição e algo mudou no meu entendimento depois desta crónica. Assim, sim! Já percebo mais qualquer coisinha… pelo menos teve o condão de aguçar o meu apetite pelo livro. Só por isso, nem tudo foi perdido e ganhei uma leitura mais atenta!
Bilhetado por Brunorix às 13:30

21
Jul 08

Não sou. Tenho que reconhecer que não sou. Vou de vez em quando e não percebo muito do assunto. Sou um filho confesso do cinema e até me esqueço desta arte, que vem dois lugares antes da 7ª, sendo 5ª pelo manifesto.

No entanto, rendo-me às evidências das circunstâncias e presto a minha homenagem a 1h de energia e admiração. O fulgor de tanta personagem numa só pessoa, os diálogos a uma só boca, a variedade de expressões a uma só cara, o diferenciado guarda-roupa a um só lenço. O riso, o choro e todos os demais sentimentos antagónicos, couberam naquela brilhante interpretação da Carla Galvão - que merecia daqui um reconhecimento universal para todo o lado.

A acompanhar, um músico que tirava som de tudo e de nada. Que imaginação, que musicalidade em cada gesto pensado, qualquer objecto emitia um som puro e limpo de intenção. Até os sons próprios tinham nome. Quando se consegue estabelecer uma relação tão próxima com a música, atinge-se um patamar de plenitude emocional e transcendental ao alcance de muito poucos predestinados. Fernando Mota é um deles, e merece cada bocadinho de elogio multiplicado por tudo! Agradeço-lhe a riqueza de experiência que me proporcionou.

Contos em Viagem – Cabo Verde, foi talvez a emoção teatral mais intensa a que tive o privilégio de assistir. Se quiserem fazer um favor a vós próprios, tenham a inteligência de não perder esta peça por nenhum valor mais alto que se alevante!




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