Escritas do fundo do mar

16
Jul 10

Foi-se.

Para parte incerta e por tempo indeterminado.

 

Bilhetado por Brunorix às 14:52

29
Jun 10

Dona Joaquina, senhora de pose fina, levantou a pesada impaciência e fulminou o marido, já combalido, com o habitual olhar 2 cabides. O coitado do senhor Alfredo, habituado a viver no medo, levantou-se e aquiesceu a pouca sorte, trocando de mesa com o Aristides e parceira. Que bandalheira.

 

- Pares sobem, jogos descem…

 

Trocados os assentos quentinhos, ficam os que não podem e os que por direito não se mudam. Agitam-se jogadas mortas e espetam-se vazas tortas. Começa nova contagem e novo leilão. Dois sem trunfo, pois então, que isto de ter pontos é coisa para versados. Não se iludam e estamos conversados.

 

- Pares sobem, jogos descem…

 

Alfredo “Às de Trunfo”, melhor jogador lá da rua, dá de avanço em piropos o que lhe falta em jeiteira, enquanto a parceira amua. Mais uma voz de papo cheio que acaba num malvado carteio. Devias era estar deste lado que já não te armavas em engraçado. Jogou-se o que deu. Valeu? Sim… um cabide dobrado.

 

- Pares sobem, jogos descem…

 

Ouvem-se cadeiras e fumaças apressadas, que o Oliveira já está à espera. Mais a Vera. Com esses é só maçadas. Jogam transfer não sei para onde, nem sei para quê. Deixa lá, o homem é Conde, não se vê?! Mas podia jogar com alguma nobreza, sempre dava um tonzinho diferente à mesa.

 

- Pares sobem, jogos descem…

 

 

Laurentino e parceira olearam a placa a noite inteira. Antes da carta certa murmuravam lamúrias entre dentes, soltos mas reluzentes. Não há lugar para brincadeira! O jogo quer-se sério e vitorioso. Para falha, já basta o tropeção adulteroso. Jogas tu, trinco eu. Troca que não gosto de fazer de morta.

 

- Pares sobem, jogos descem…

 

Entre espadas e outras abanadas, Alcina era mais dada a copas, topas? Assuntos de coração que não se resolvem com paus, pelo menos maus. Para bater couro mais vale jogar ouro. Pelo sim pelo não, corta-se do morto e apura-se da mão… não vá dar para o torto e não haver solução.

 

- Pares sobem, jogos descem…

 

De porte autoritário e mandão, Manuel Juiz, o doutor, era dos árbitros um senhor. Ou talvez não. Mandava subir e descer, carregava em botões e dava cartas, fazia da pose o saber e iludia as disputas mais fartas. Mais dado às artes do xadrez, onde sentia ser o rei, de Bridge sabia as cores e do resto nem falarei.

 

- Pares sobem, jogos descem…

 

Campeonato de manha tamanha só podia ser num local. Depois do como é preciso o onde, e para isso não há igual. Sabemos onde se joga bem. É num clube onde ninguém se esconde: jogo eu, jogas tu e o Abel. Ainda joga a prima, a tia e a mãe e ainda há espaço para mais alguém. Senhoras e senhores, eis o CBL!

 

- Pares sobem, jogos descem…

Bilhetado por Brunorix às 17:29

09
Jun 10

Acordei morto. Não se percebia bem o motivo nem o porquê, se é que existem porquês para a morte, mas o fundamental é que eu estava morto. Olhei para mim de lado e achei que até estava com bom aspecto (se é que alguma vez tinha tido bom aspecto), não parecia nada estar morto. Talvez um bocadinho frio, só isso.

 

Ao meu lado, a olhar comigo, estava o meu irmão que parecia concordar que o meu bom aspecto (o tal possível) não se coadunava com a minha morte.

 

- Realmente não pareces mal. Sempre foste um bocado feioso, mas não pareces nada estar morto.

- Já viste?! E agora o que é que eu faço à minha vida? Isto não vinha nada a calhar e não me dava jeito nenhum morrer hoje. Até tenho uma apresentação lá na empresa…

- Pois… a essa já não deves ir, não.

- E agora?! Tens que me ajudar!

- Eu?! E o que é que eu sei sobre mortes?

- Sei lá! Mas és meu irmão e tens que me ajudar!

- Epá! Assim de repente…

 

A porta do quarto abriu-se e com a habitual pontaria entra o meu Pai que interrompe o nosso diálogo idiota e se junta à consternação geral.

 

- Olha, olha. Então tás morto? Queres lá ver isto?! Não tinhas uma apresentação hoje? Não comeces a fugir às responsabilidades, já sabes que…

- Eh lá! Calma… eu não fiz nada! Acordei assim, que queres que te diga?!

- Oh Pai tem lá calma. Então o rapaz acorda morto e ainda estás aí a atazanar?!

- Acorda morto, acorda morto! Aprontou alguma de certeza! Então não se vê tão bem que não tem ar de morto?! Vejam lá mas é se resolvem isso os dois que ainda por cima hoje os Avós vêm cá jantar e não quero que te vejam nesse estado! Ainda lhes dá alguma coisa!

 

Com tanta barulheira e a curiosidade do costume, a minha mãe apareceu também para se juntar à festa.

 

- Oh filho! Então vais-me morrer assim sem dar um beijinho à mãe?! Vá lá, toca mas é a levantar que isso é mas é preguiça! Até já te arranjei o pequeno-almoço: sopas de leite com pão, como tu gostas!

- Oh Mãe, por amor de Deus. Achas que eu tenho a culpa?! Já disse que acordei assim, o que é que eu posso fazer?

- Oh querido, não sei… reza um bocadinho pode ser que isso passe. Olha a tua tia uma vez também acordou assim e depois chamámos o Padre e ele rezou por ela.

- E resultou?!

- Não. Mas a tua Tia também não era muito boa, tadinha…

- Olha que grande ajuda! E se vocês em vez de estarem a dizer coisas parvas fizessem qualquer coisa para me ajudar?

 

Nisto desapareceram os três e eu acordei de vez. Estava vivo, quem diria, e com uma apresentação importante para fazer nesse dia!

 

Bilhetado por Brunorix às 20:03

01
Jun 10

Os ECSITES, as salsichas e as cervejas fazem da distancia a partilha possivel, sem acentos mas com assentos de qualidade, ou nao fosse esta a Alemanha da industria, especialmente aquí em Dortmund.

 

Na viagem surgiu a possibilidade de desviar um aviao com um sumo de laranja, mas como o levantar das 04h da manha ainda estava presente no espirito, decidimos deixar passar esta oportunidade. Tanto esforco a retirar todos os liquidos de mais de 100ml na controle do aeroporto para depois nos oferecerem 200ml a bordo e com um sorriso!

 

 

 

 

No aeroporto de Munique a preocupacao com a solidao era notoria. Para aqueles que viajam sem a cara metade aqui fica a solucao…

 

 

 

Ao jantar o mix de salsichas foi regado com uma dose normal de cervela, ou seja 0,5L em cada "canequinha", o que origina muitas deslocacoes ao wc para ir descarregando tanto liquido. Como temem que estas idas se tornem monotonas nao ha nada como uma distracaozinha.

 

 

Auf Wiedersehen, goodbye a todos os meus Cid`s.

 

 

 

P.s. - Por algum motivo idiota as fotos deitam-se! Deve ser do cansaco...

Bilhetado por Brunorix às 10:19
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27
Mai 10

Com lágrimas de saudade nos despedimos da Ifigénia que mesmo assim ainda aquece os nossos corações. O conto seguinte, por conseguinte, chega de Nova Iorque em pedalada de alto nível. Subtilmente cru deixa-se desenhar no nosso entendimento pela mão da Bárbara Guerreiro Nunes com o Vermelho Imperfeito.

 

As chapadas de realidade literária suscitam em qualquer leitor a vontade de gritar em direcção opinativa. Não é?! Então vá, unam a mão ao pensamento e teclem lá qualquer coisinha de índole crítica. Pedalemos!

 

 


Bilhetado por Brunorix às 16:59

26
Mai 10

P.P. (Personagem Principal), seguia pela estrada do conto em direcção ao sol que se punha por escrita imposta. Guiava com a tranquilidade própria de quem segue um caminho orientado e acelerava o suficiente para lá chegar. Nem muito, nem pouco, apenas o suficiente.

 

O seu carro de confiança era o mesmo do ano anterior, o que lhe deixava espaço para qualquer manobra. Sabia de cor o número de voltas que precisava de dar ao volante se quisesse escrever um romance, ou a força com que travar em caso de choque literário, ou até o buzinar enfurecido em caso de engarrafamento de escritor.

 

Homem e máquina eram um só respirar que fluía pelas linhas da palavra escrita. O rumo não podia ser mais tranquilo, nem mais literário.

 

De repente, um estouro quase jornalístico fez perceber que rebentara um pneu. Guinou umas palavras para a esquerda, travou outras para a direita e a custo, e susto, conseguiu encostar na berma certa.

 

Saiu e verificou com estupefacção o estado degradado do pneu direito que agora era torto. Por desígnios de um crítico qualquer avistou uma área de serviço literário a 500m. Rastejou o carro para lá e pediu ajuda a um mecânico de letras…

 

- Eh lá! Esse pneu já não escreve nem mais uma linha!

 

- Pois é… já viu o meu furo?!

 

- Não se preocupe que veio ao sítio certo. Como prenda pela sua extraordinária condução literária, tem direito a uma edição grátis do seu próximo pneu!

 

- Nem pensar! Faço questão de ser eu a escrever o remendo!

 

- Mas não é um remendo, é uma edição nova. Além disso não pode recusar, faz parte do seu mérito!

 

- Não, não. Isto não passa de um exercício e se insistir deixo simplesmente de escrever.

 

- Mas assim a confiança do carro…

 

- ...

 

Bilhetado por Brunorix às 18:34

23
Mai 10

- Então o Sr canaliza?

- Canalizo pois!

...

- Não tem prái um tampáruere ou isso para despejar a água?

- Tenho pois!

...

- Prontos! É da bomba d`água! Agora só 2ª feira...

- Pois...

 

Bilhetado por Brunorix às 15:21

17
Mai 10

Em imagens porque as palavras não chegam para descrever tudo: o ambiente, o cheiro, o choque cultural e religioso, a gastronomia, a língua... E mais uma experiência profissional e de vida que ficará gravada no lado positivo da lembrança. Espero voltar com mais tempo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Bilhetado por Brunorix às 11:57
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12
Mai 10

Que é como quem diz por terras de Jerusalém: Museu de Ciência.

Bilhetado por Brunorix às 14:10
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07
Mai 10

À segunda vista tudo parecia escuro de sentimentos. Na primeira – feira já nascia a semana da descoberta e da partilha. A beleza do que não se vê está no sentimento que une duas mãos desconhecidas de desejo.

 

Um abraço de confiança sabia a porto seguro com doce de pêra, da vida. Cada dentada de vontade seria apenas amizade. Na verdade, as uniões que não são, de facto, sentidas têm a palidez do sol à noite.

 

Ainda não nasceu mas já é presença do sonho diário. Chama-se tranquilidade e é filho do respirar fundo e do sono pesado.

 

As palavras não são mais que o veículo da ilusão, criada pela circunstância. Implicância? Talvez criancia (só para soar), no penhasco do destino a sentir à volta o voo circular dos pássaros da imposição. Que falta de capacidade de encaixe. Não aiche?! Aicho!

 

Parvos, são os pensamentos soltos da revolta. Assim se escrevem linhas de imensidão perdida na amálgama do sonho. Cada passo, cada imagem, são peças soltas da realidade, e esta…é a mais pura verdade!

 

Para a semana, o lamento será no muro original.

 

 

Bilhetado por Brunorix às 13:00

28
Abr 10

Longe vão os tempos em que se escrevia história na Europa com heróis portugueses de verde e branco. Heróis de garra e com garra que respiravam brio nas atitudes e na camisola. Em ano de desonra clubística, rugiu ontem pela última vez um desses heróis.

 

O cantinho do Morais ficará para sempre na memória dos relatos e da paixão de cada um. A taça, que era a das Taças, escreveu-se no mais alto lugar de um sonho que ainda hoje se lê único. Foi magriço em 66 e leão para todo o sempre.

 

 

João Pedro Morais

(1935-2010)

Bilhetado por Brunorix às 17:21

Bicicletas com atraso regressam em pedaladas de fúria. Enquanto os tons de África ainda cheiram na página anterior, eis que nos chega o prazer da amizade anunciada em conto sem nó. A qualidade esperada, e ultrapassada, vem da pena criativa da Ana Oliveira com a Ifigénia a Marco António.

 

Se o prazer da leitura tivesse medidor, a escala de satisfação atingiria valores de recorde neste caso. Pedalem na direcção do prazer e não percam esta pérola da sintaxe imaginativa.

 

Bilhetado por Brunorix às 17:19

27
Abr 10

De volta às lides da vida (com uma peça a menos) reencontro na mesma tudo o que nunca muda. O ar está impregnado do que sempre foi e o amanhã continua igual ao ontem. Ouço (melhor) o espanto que rodeia cada acontecimento e lamento a apatia da vida circular, que pode ser segunda ou de primeira insatisfação.

 

Os sonhos enclausurados agarram-se às grades da consternação e fecham os olhos a cada bandeja que surge para alimentar o tempo. O julgamento é aguardado no cárcere do destino… sem fome.

 

Inspecções de consciência viram as patas do aparente ao contrário enquanto a linha do horizonte se verticaliza no sentido inverso. Perverso?! Não, original! Não importa a cor do pêlo, desde que não seja camelo, nem a força do olhar que perscruta na imensidão do que se sabe existir. O que interessa é a aparência.

 

 

Passadas de presente, deixam passados para trás do que há-de vir. O caminho de regresso faz-se no sentido árduo sem pisar questões. As emoções ficam do lado de lá e aqui grita-se a lei do silêncio.

 

Os maçaricos da revolta deitam chama de isqueiro infantil e chamuscam de ridículo a vontade. Qualquer sopro de imposição apaga as velinhas de um bolo estragado de tanto esperar. É só soprar.

 

Que bom estar de volta!

Bilhetado por Brunorix às 18:24

21
Abr 10

... na doença! Operativamente falando (isto é, em termos de operação) correu bem, mas estamos de baixa e com dificuldade para monitores e teclados.

 

Bilhetado por Brunorix às 03:46

15
Abr 10

Se o bom filho à casa torna, o bom pai nunca de lá devia ter saído.

 

É a gestão dos tempos modernos, as 24h dos dias de hoje são mais pequenas que as 24h de os dias de ontem. Fazemos coisas a mais, dizem uns. As solicitações são maiores, dizem outros.

 

A insatisfação é inimiga do espaço vazio. Por isso, preenchemos cada nanosegundo com um minuto de vontade. Resultado: não dá para tudo. Deixamos projectos, ultrapassamos compromissos, esquecemos amigos, dormimos aos poucos, caminhamos em todas as direcções, deixamos abraços em casa… e no fim? Sorrimos de plenitude!

 

Estranhas vontades as nossas. O ritmo que impomos aos acontecimentos é mais rápido que a concretização. Drogamos as ideias para conseguir aguentar a passada. Até que nos passamos. Mas vamos… sempre a sorrir.

 

O cansaço do aço a bater no ouvido do descanso, abre buracos na parede da tranquilidade. Férias que não o são senão no papel, fazem pensar na saudade do tempo. Do tempo em que havia tempo. - Não digas isso. Há sempre tempo… pois há mas não chega!

 

Este, foi o que consegui arranjar.

 

Bilhetado por Brunorix às 09:58

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